terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Violência é o que mais preocupa Tocantins


Em pesquisa do PNUD sobre problemas do Brasil, TO é o único em que tema surge em 1º lugar; Estado é um dos que têm menos homicídios

Mariana Desidério - da PrimaPagina


A violência é a principal preocupação dos moradores de Tocantins. O Estado foi a única das 27 unidades da Federação em que esse tema ficou em primeiro lugar na pesquisa Brasil Ponto a Ponto — realizada pelo PNUD para orientar a escolha do tema do próximo RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) Brasil.

De forma aparentemente contraditória, Tocantins tem uma das menores taxas de homicídio do país. De acordo com o Datasus em 1996 — primeiro ano para o qual o banco de dados do Ministério da Saúde tem dados sobre homicídios em todo o país —, foram registrados 12 casos para cada 100 mil habitantes em Tocantins. A taxa era a sexta menor entre os Estados brasileiros. Onze anos depois (em 2007, último ano para o qual há dados disponíveis), o Estado era o quarto com menos mortes por agressão — 16,4 por 100 mil habitantes. Em Alagoas, que amargou o pior indicador em 2007, foram 59,5.

A pesquisa Brasil Ponto a Ponto fez a pergunta “O que precisa mudar no Brasil para a sua vida mudar de verdade?” a cerca de 500 mil pessoas — as respostas puderam ser enviadas por celular via internet; nem todas elas identificavam o local onde mora o remetente. No Tocantins foram computadas mais de 12 mil mensagens; 21,5% delas falavam de questões relacionadas à violência. O segundo tema que mais preocupa os tocantinenses é educação, seguido por políticas públicas.

O resultado nacional da pesquisa mostrou uma preocupação geral com a educação, tema específico mais votado no país. Dos temas classificados como transversais — que abrangem diversos dos temas específicos —, “valores” ficou em primeiro lugar e será o foco do próximo RDH Brasil. “Valores” ficou em sétimo lugar em Tocantins.

O resultado da pesquisa para Tocantins não é necessariamente contrário aos dados sobre homicídio, avalia o coordenador do RDH Brasil, Flávio Comim. “A violência inclui violência doméstica, violência na escola, microincivilidades. Não é só homicídio. [No Brasil Ponto a Ponto,] apareceu muito violência doméstica, entre amigos e na escola. Então, eu nem acho que é uma discrepância. Uma é um subconjunto da outra”, afirma.

Os dados da Secretaria de Segurança Pública de Tocantins podem reforçar o argumento de Comim. De 2004 a 2008, as ocorrências registradas de crimes contra a pessoa, sem morte — que incluem tentativa de homicídio, lesões corporais e ameaça —, subiram de 721 a cada 100 mil habitantes para 778; o pico foi em 2006 (853 ocorrências). No mesmo período, as ocorrências de crimes contra o patrimônio — roubos, furtos, extorsão e estelionato — aumentaram de 1.102 para 1.255 por 100 mil habitantes.

Violência real e percepção de violência

Outro fator que pode explicar a escolha dos tocantinenses é, de acordo com Comim, o descolamento entre violência real e percepção de violência. “Hoje, em estudos de segurança cidadã, você tem muito claro que a violência e a percepção de violência não são necessariamente proporcionais. Existe uma percepção de violência muito maior”, afirma Comim. Ele ressalta que esta preocupação com a violência não pode ser vista como irreal. “As pessoas saem com medo na rua, então, como tal, ela é uma realidade. Existem outros fatores que motivam. Não são apenas os crimes como eles acontecem, mas como eles são noticiados, é a aversão ao risco que as pessoas têm. Mesmo que as coisas tenham uma probabilidade menor, as pessoas consideram que pode acontecer com elas”, comenta.

As especificidades do Tocantins ajudam a explicar esta percepção de violência, avalia o professor do Departamento de História e membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Violência da UFT (Universidade Federal do Tocantins), Braz Batista Vas. “As questões ligadas à terra, a incidência muito grande de trabalho em condições semelhantes à escravidão e a violência no campo, agravada pela proximidade do Pará e do Maranhão — tudo isso talvez contribua para essa sensação de violência”, afirma.

Além de questões ligadas ao campo, problemas urbanos também podem ter seu papel, de acordo com Vas. “Fatos menos resolvidos, como iluminação e baixo asfaltamento, geram uma sensação de ambiente violento. É um pouco diferente da realidade do Sudeste. O trânsito é desordenado, o controle é menor que no Sul e no Sudeste, há mais acidentes, mais impunidade”, argumenta. Também pesquisadora do núcleo da UFT e professora do Departamento de História desta universidade, Marisete Cristina Soares Lunckes salienta que Tocantins passa hoje por um forte processo de urbanização. “As pessoas têm uma preocupação de que aconteça aqui o que acontece nas grandes cidades”, diz.

Ambos os professores concordam que a mídia tem um papel importante nesta questão. “Se você for olhar quantos minutos se dedica à violência na televisão, vai ver que o tempo é muito grande. Isso cria uma preocupação”, argumenta Marisete.

Outra característica tocantinense e que pode ajudar a explicar os resultados da pesquisa do PNUD, segundo o professor Braz Batista Vas, é o fato de o Estado ser o mais jovem da Federação: “A própria estrutura do Estado ainda está se construindo.” O superintendente da Polícia Civil do Tocantins, Gilson Sousa Silva, também ressalta esta questão: “O Estado é novo e a população é pequena [pouco mais de 1 milhão de habitantes]. Quando a Polícia Civil realiza uma operação, seja de médio ou grande porte, a repercussão é imediata, isso nos faz acreditar que o mesmo ocorre quando acontece alguma ação criminosa”, diz.

Silva afirma ainda que é difícil saber exatamente por que a população do Estado tem uma preocupação grande com a violência. “Quando perguntamos a essa mesma população sobre o serviço prestado pela segurança pública, esta se diz satisfeita e o avalia como bom e, em alguns casos específicos, ótimo.”

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