segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cercada por favelas, Av. Brasil tem um crime por hora


Com apenas 60 policiais ao longo da via, mesmo número da década de 80, corredor por onde passam 2 milhões de pessoas por dia é repleto de rota de fugas para bandidos

Por Francisco Edson Alves, do O Dia


Um ano e três meses depois de ter denunciado o abandono do principal eixo rodoviário do Rio — por onde passam 250 mil veículos diariamente e batizado de “corredor polonês” pela polícia, por ser espremido entre 50 favelas em 28 bairros — a reportagem de O DIA percorreu novamente os 58,3 quilômetros de pista na quinta-feira e constatou que praticamente nada mudou em termos de segurança.

“Infelizmente, só posso contar com a fé e a sorte para não ser atingido por bala perdida, assaltado ou sequestrado”, diz Rocha. Estatística do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) mostra que em nove meses (julho a dezembro de 2008 e julho a novembro de 2009) foram feitos 6.567 registros de diversos tipos de delitos em delegacias ao longo da avenida, o equivalente a 730 boletins de ocorrências por mês, ou 24 por dia, um a cada hora.

De acordo com o comando do BPRv, os índices de violência caíram 20% na Brasil, quando comparados os dois períodos descritos acima. A exemplo da matéria publicada em 12 de outubro de 2008, o efetivo de 60 homens — que se dividia em três turnos —, ainda é o mesmo da década de 80. Em nota, o comandante do batalhão, coronel Aristeu Leonardo, afirmou apenas que o “efetivo é suficiente”.

Para ver os policiais ao longo da via, é preciso andar — e muito. Na última quinta-feira à tarde, no trecho entre o Caju e Irajá, podia-se avistar apenas três viaturas. Nos nove meses pesquisados pelo BPRv, 33 assassinatos foram computados em toda a extensão da via.

Na altura da Penha, um dos trechos mais violentos da rodovia, onde assassinatos — como o do fotógrafo de O DIA André Alexandre de Azevedo, o André AZ, 34, morto covardemente por bandidos que tentaram levar sua moto em 25 de fevereiro do ano passado — são frequentes. “Já fui assaltada duas vezes aqui perto da Fiocruz, em Manguinhos”, diz a comerciária L., 33 anos. Assim como L., 957 transeuntes foram assaltados às margens da Brasil, como aponta o BPRv.

Média é de três veículos roubados por dia na pista

Inaugurada em 1946, a Avenida Brasil é administrada pelo município e difícil de ser patrulhada, como admite a própria polícia. “Praticamente em toda sua extensão há rotas de fugas, devido às centenas de acessos às comunidades”, comenta o delegado da 22ª DP (Penha), Jader Amaral.

Na 22ª DP, os investigadores tentam encontrar o paradeiro de George Rodrigues Carvalho, o Cajá, 25. Indiciado por tráfico, roubo de veículos e receptação, Cajá é apontado como chefe do principal bando que aterroriza motoristas nas principais vias expressas.

A polícia acredita que boa parte dos 729 carros roubados na Avenida Brasil em nove meses — média de 3 por dia — tenha sido levada pela quadrilha de Cajá.

Em nota, o BPRv informou que foram criados quatro serviços de ações preventivas com viaturas baseadas 24h em pontos estratégicos. Ainda de acordo com a nota, a apreensão de motos irregulares é uma das prioridades na via, sendo recolhidas em torno de 10 a 15 por dia.

Para ajudar no patrulhamento da estrada, o BPRv informou que está em fase de estudo a instalação de 22 câmeras de segurança ao longo da rodovia, assim como oito cabines blindadas. Segundo Aristeu Leonardo, os equipamentos vão ajudar a polícia a combater os assaltos em engarrafamentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mais Lidos