Com apenas 60 policiais ao longo da via, mesmo número da década de 80, corredor por onde passam 2 milhões de pessoas por dia é repleto de rota de fugas para bandidos
Por Francisco Edson Alves, do O Dia
Um ano e três meses depois de ter denunciado o abandono do principal eixo rodoviário do Rio — por onde passam 250 mil veículos diariamente e batizado de “corredor polonês” pela polícia, por ser espremido entre 50 favelas em 28 bairros — a reportagem de O DIA percorreu novamente os 58,3 quilômetros de pista na quinta-feira e constatou que praticamente nada mudou em termos de segurança.
“Infelizmente, só posso contar com a fé e a sorte para não ser atingido por bala perdida, assaltado ou sequestrado”, diz Rocha. Estatística do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) mostra que em nove meses (julho a dezembro de 2008 e julho a novembro de 2009) foram feitos 6.567 registros de diversos tipos de delitos em delegacias ao longo da avenida, o equivalente a 730 boletins de ocorrências por mês, ou 24 por dia, um a cada hora.
De acordo com o comando do BPRv, os índices de violência caíram 20% na Brasil, quando comparados os dois períodos descritos acima. A exemplo da matéria publicada em 12 de outubro de 2008, o efetivo de 60 homens — que se dividia em três turnos —, ainda é o mesmo da década de 80. Em nota, o comandante do batalhão, coronel Aristeu Leonardo, afirmou apenas que o “efetivo é suficiente”.
Para ver os policiais ao longo da via, é preciso andar — e muito. Na última quinta-feira à tarde, no trecho entre o Caju e Irajá, podia-se avistar apenas três viaturas. Nos nove meses pesquisados pelo BPRv, 33 assassinatos foram computados em toda a extensão da via.
Na altura da Penha, um dos trechos mais violentos da rodovia, onde assassinatos — como o do fotógrafo de O DIA André Alexandre de Azevedo, o André AZ, 34, morto covardemente por bandidos que tentaram levar sua moto em 25 de fevereiro do ano passado — são frequentes. “Já fui assaltada duas vezes aqui perto da Fiocruz, em Manguinhos”, diz a comerciária L., 33 anos. Assim como L., 957 transeuntes foram assaltados às margens da Brasil, como aponta o BPRv.
Média é de três veículos roubados por dia na pista
Inaugurada em 1946, a Avenida Brasil é administrada pelo município e difícil de ser patrulhada, como admite a própria polícia. “Praticamente em toda sua extensão há rotas de fugas, devido às centenas de acessos às comunidades”, comenta o delegado da 22ª DP (Penha), Jader Amaral.
Na 22ª DP, os investigadores tentam encontrar o paradeiro de George Rodrigues Carvalho, o Cajá, 25. Indiciado por tráfico, roubo de veículos e receptação, Cajá é apontado como chefe do principal bando que aterroriza motoristas nas principais vias expressas.
A polícia acredita que boa parte dos 729 carros roubados na Avenida Brasil em nove meses — média de 3 por dia — tenha sido levada pela quadrilha de Cajá.
Em nota, o BPRv informou que foram criados quatro serviços de ações preventivas com viaturas baseadas 24h em pontos estratégicos. Ainda de acordo com a nota, a apreensão de motos irregulares é uma das prioridades na via, sendo recolhidas em torno de 10 a 15 por dia.
Para ajudar no patrulhamento da estrada, o BPRv informou que está em fase de estudo a instalação de 22 câmeras de segurança ao longo da rodovia, assim como oito cabines blindadas. Segundo Aristeu Leonardo, os equipamentos vão ajudar a polícia a combater os assaltos em engarrafamentos.
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