sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No Brasil, jovens e adolescentes negros e pobres têm maior possibilidade de serem vítimas de homicídio, segundo IHA


Por Cecília Olliveira


No Brasil, a possibilidade de ser uma vítima de homicídio é maior entre jovens e adolescentes. Essa possibilidade cresce consideravelmente se o jovem ou adolescente for negro e pobre. A probabilidade de ser vítima de homicídio é 12 vezes superior para os adolescentes de sexo masculino, em comparação com adolescentes do sexo feminino, e quase quatro vezes mais alta para os negros em comparação com os brancos. Esses dados foram apresentados no último dia 10 de dezembro, em Brasília, durante o lançamento do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), produzido pelo Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens.


“É um extermínio”, afirmou o professor do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Ignácio Cano, responsável por compilar os dados do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), durante a apresentação do Índice. Segundo o IHA, os homicídios afetam principalmente os rapazes (12 homens para cada jovem assassinada); os negros (quase quatro pretos ou pardos para cada branco ou amarelo); e moradores da periferia. Do total de homicídios, 6 em cada 7 são cometidos com arma de fogo.
Ministro

Para a secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Silveira de Oliveira, “é preciso que esse controle de armas seja feito”, disse ao lembrar que “o grande papel das Forças Armadas é estar no controle das fronteiras e não propriamente na ocupação das favelas urbanas”.

Diante deste panorama, a coordenadora do estudo e coordenadora do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, afirma que é “fundamental que haja uma política consistente de desarmamento no Brasil”. “O cenário é alarmante, crescente, especialmente nesse público. Temos uma realidade que, embora o Brasil esteja avançando, e que nós juntos consigamos atingir números de redução e estratégias de enfrentamento ao trabalho infantil e exploração sexual, ainda há muito a se fazer. A agenda sobre homicídios que está sendo construída é recente”, pondera a especialista de Programas de Proteção à Infância do Unicef no Brasil, Helena Oliveira Silva.

Para a chefe do Programa de Proteção da Criança à Violência do Unicef, Casimira Benge, as políticas de segurança pública devem estar articuladas às políticas sociais. Ela avalia que no caso da América Latina e do Caribe a morte violenta de adolescentes tem “proporção epidêmica” e pode comprometer ganhos na redução da mortalidade infantil. Ela ressalta que a morte violenta na região “tem cor, nível social e idade”, fazendo referência aos adolescentes negros, pobres e moradores da periferia.

O IHA avaliou 266 municípios do Brasil com mais de 100 mil habitantes e chegou a um prognóstico alarmante: estima-se que 32.912 adolescentes sejam assassinados entre 2007 e 2013, se as condições que prevaleciam nessas cidades em 2007 não mudarem.
Considerando toda a população residente em municípios de mais de 100.000 habitantes, o valor do IHA para o Brasil foi de 2,67 adolescentes mortos por homicídio entre os 12 e os 18 anos, para cada grupo de 1.000 adolescentes.

A cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, continua liderando o ranking de homicídios entre as cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, com 11,8 mortes para cada grupo de 1.000 adolescentes entre 12 e 18 anos. Em seguida, aparecem os municípios de Cariacica (ES), com 8,2 e Olinda (PE), com 8.

A comparação do valor do IHA para o Brasil em 2007 com o IHA dos anos anteriores (2005 e 2006) não permite verificar uma tendência consolidada, mas revela que o valor é mais alto no último ano (IHA=2,67 em 2007) do que no primeiro (IHA= 2,51 em 2005), um aumento de 6%.

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