quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O fatiamento da violência


Por João Batista Damasceno, em O Dia
 
O assassinato de 111 presos no Presídio do Carandiru em 1992, pela truculência, parece que foi ontem e não há 20 anos. Em 2006 um suposto ataque do PCC que vitimou alguns policiais em São Paulo reabriu a porta para os grupos paramilitares de extermínio. Em poucos dias, pelas ruas foram encontradas 107 pessoas mortas. Pelo fatiamento da violência, os crimes não chocaram tanto. As vítimas foram tratadas pela mídia como ‘suspeitas’, e suas mortes, debitadas como ‘acerto de contas’ do aparato paraoficial.

A morte de uma policial no Complexo do Alemão propiciou a reflexão sobre o que se faz em política de segurança no Estado do Rio de Janeiro e como a mídia, autoridades e supostos ‘especialistas’ tratam do tema. Não faltaram discursos sobre impunidade, brandura da lei, poder das organizações criminosas e ousadia dos bandidos. Seguiu-se uma mortandade fatiada de ‘suspeitos’, dentre eles, dois jovens mortos com um único tiro de fuzil.

Na fantasiosa guerra urbana, nenhum coronel foi atingido, nenhum delegado, nenhuma autoridade do Estado foi ameaçada. O único caso de autoridade executada no Rio de Janeiro foi a juíza Patrícia Acioli — mas pelas forças de segurança do Estado, e não pelos bandidos que se pintam como poderosos e ameaçadores da vida em sociedade. No episódio da morte da policial no Alemão, a única voz lúcida foi a de uma policial militar, irmã da vítima. Cabo da PM, alertou para a falta de treinamento dos praças mandados para atuação e confronto. Foi silenciada pela hierarquia.

Praças são expostos na política de confronto e extermínio. O que se pratica no Rio de Janeiro, quando somados os crimes, haverá se der considerado genocídio contra os pobres. Nesta semana um menino de 15 anos foi assassinado na frente da mãe, que também teve a vida ameaçada. Ontem foi a vez de uma menina de 6 anos. Ambos com tiro de fuzil. A morte de pessoa das relações do governador, num acidente de helicóptero de um empreiteiro, dizem, o deixou muito abalado. Maior é o abalo das mães que perdem seus filhos pela política de extermínio do Estado.

Doutor em Ciência Política pela UFF, juiz de Direito e membro da Associação Juízes para a Democracia

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