domingo, 16 de dezembro de 2012

‎"A mídia produz medo, e o medo produz crime"


Por Cecília Olliveira

Os vídeos a seguir foram gravados no Congresso Brasileiro de Direito e Política de Segurança Pública, organizado pelo Instituto Brasileiro de Direito e Política de Segurança Pública – IDESP.Brasil, do qual sou uma das diretoras fundadoras. O evento foi o primeiro realizado entidade, entre os dias 24 a 26 de outubro de 2012, em Belo Horizonte - MG.


Destaco aqui a mesa "Segurança Pública e Mídia", com apresentações de Marcos Rolim* e Luiz Flávio Sapori**.

Qual a responsabilidade da mídia nas ações criminosas? 

Segue parte da fala de Rolim":

"Rádios e TVs são concessões públicas. Nós somos os donos. (...) Quero uma mídia qualificada, cada vez mais respeitadora da ordem constitucional, sem preconceitos, não homofóbica, não racista, que não tenha receitas para segurança e fale disso pra aquele não entenda.

Todo jornalista sabe: crimes violentos são eventos extraordinários, incomuns,  mas isso, na comparação com os demais crimes.

(...)

Homens de bem e homens de mal: as crianças dividem o mundo entre mocinhos e bandidos, mas os adultos deveriam saber que o ser humano é contraditório e que o crime é um evento que diz respeito a agência humana. Nós sabemos disso através de pesquisas de auto relato. elas são pesquisas feitas anonimamente, com questionários fechados. Em regra, 95% das respostas sao afirmativas para pelo menos um crime na vida. 

Estou falando aqui dentro e duvido, posso estar enganado e ser que aqui em Minas tenha um número maior de santos que em outros lugares do mundo, mas eu duvido que nessa sala tenha alguém que nunca cometeu um crime na vida.  Enfim, crime é isso: o que os seres humanos praticam, não o que os bandidos praticam. A diferença é que aqueles que chamamos de bandido transformaram suas vidas em carreiras criminais. 

Sendo assim, quanto mais novidade tiver a informação, mais valor se agrega a notícia. Sempre que há um crime especialmente violento, isso é notícia. Nesse sentido a imprensa não tem culpa nenhuma da notícia. (…) Furtos não são notícia, por que é cotidiano.

Mas o que se produz para pessoas que assistem estas notícias? Elas começam a achar que crimes violentos são crimes comuns. Como ela não vê notícias sobre outros crimes, ela acha que eles não acontecem. A noticia criminal promove o que eu chamos de realidade invertida. Ela constrói - inerentemente - essa realidade, mas devia ir além e esclarecer que ocorrem outros crimes. "

Um exemplo prático do que disse Rolim e que consta em sua apresentação:

Pesquisa de Tulio Khan compara as ntícias que sairam na Folha de S. Paulo aos registros policiais.

Entre 1997 e 1998, 2,7% das notícias sobre crime que saíram na FSP tratavam de furtos, mas este crime corresponde a 45% dos registros da polícia nesse período.

Já o crime de sequestro representa 10,6% das notícias sobre crime publicadas na Folha, mas isso correspondia a 0,0001% dos registros da policia em SP.

"Tudo o que é grave vira comum e tudo o que é comum, desaparece"- Rolim.

Assista:








*Marcos Rolim, sobre Segurança Pública e Mídia. Rolim é jornalista e mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde realiza seu doutoramento. É professor da Cátedra de Direitos Humanos no Centro Universitário Metodista-IPA e atua como consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos.

**Doutor em Sociologia, foi Secretário Adjunto de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais no período de janeiro de 2003 a junho de2007. Atualmente é professor do curso de Ciências Sociais e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública (CEPESP) da PUC Minas. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Crime e da Violência, atuando principalmente nos seguintes temas: justiça criminal, polícia, organizações, violência policial e violência.

Um comentário:

  1. Um monte de babacas que filosofam na teoria !! Não entendem nada , mas porém usam a propria imprensa para seus devaneios filosoficos !!

    ResponderExcluir

Mais Lidos