segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A base continua sendo a informação. Ou não?



Por Cecília Olliveira

Traçar mapas de criminalidade é algo normal e até corriqueiro, mesmo no Brasil, aonde algumas novidades chegam um pouco atrasadas. O uso de softwares que ‘constroem’ mapas mostrando áreas mais violentas ou que concentram certos tipos de infração é comum. Aqui, um programa muito usado é o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) que transforma dados (pesquisas quantitativas e qualitativas) em informações, principalmente para ciências sociais.

Eu, particularmente, acho seu uso complicado, principalmente se levarmos em conta que ele foi desenvolvido em 1968 e mesmo com as versões atuais, creio que a nova linguagem do mundo web tem muito mais a oferecer. E tem mesmo. O Oakland Crimespotting é exatamente isto: a linguagem moderna das estatísticas de crime. O site, da cidade de Oakland, Califórnia, mostra aos internautas os locais onde assaltos são mais comuns, onde há venda de narcóticos e prostituição, por exemplo.

Mas, de volta ao Brasil, não é segredo pra ninguém que as nossas polícias não se falam, quiçá permitir um banco de dados único. Existem sim esforços para que tais bancos sejam criados, mas o corporativismo e a vaidade que impera entre as polícias ainda não permite que a sociedade seja beneficiada por este esforço. Realmente uma pena. O máximo que vemos hoje são algumas viaturas, em algumas capitais “mais evoluídas”, equipadas com um notebook ou palm, para checagem de antecedentes criminais.

O Oakland Crimespotting foi projetado e construído por Tom Carden, e Eric Rodenbeck, da Design da Michal Migurski, que afirmaram crer que os dados deviam ser expostos ao público. “Os sistemas atuais são frustrantes e limitam as informações disponíveis ao público. Como cidadãos temos o direito à informação pública e um entendimento
claro do nosso meio ambiente é essencial para uma cidadania informada”, dizem. (E eu concordo)

Do modo como as informações são dispostas, é possível, ao invés de simplesmente saber onde o crime ocorreu, ir mais fundo e comparar: Existe mais criminalidade esta semana que na semana passada? Mais do que mês passado? Assaltos tendem a acontecer perto de assassinatos?

Este sistema de informações, claras e passíveis de interpretação pela população local, seriam muito bem vindas para a visão que hoje é disseminada pelas autoridades em segurança: a de conselhos de segurança pública, conhecidos por Conseg’s (Conselho de Segurança Pública), com a participação popular.

Está para acontecer este mês em Brasília, entre os dias 27 e 30, a 1º Conferencia Nacional de Segurança Pública, onde serão levadas em consideração as questões levantadas nas etapas estaduais, que claro, poderiam ser muito mais consistentes se a população, como um todo, tivesse acesso a estes dados para debater o assunto de forma mais pertinente.

A iniciativa de abrir a discussão à sociedade é louvável, porém, ainda um pouco utópica, já que há quem vá a estes fóruns ainda às cegas.

O objetivo geral da Conferência é “definir princípios e diretrizes orientadores da Política Nacional de Segurança Pública, com participação da sociedade civil, trabalhadores e poder público como instrumento de gestão, visando efetivar a segurança como direito fundamental”.

Eu faço meu esforço pra crer nisso, sinceramente.

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