quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Policial que participou da Chacina é condenado a 543 anos

Alexandre Santos Lourenço*

“A justiça existe!”. Frases como esta, dita por Eliane Azevedo, 39 anos, irmã de Renato Azevedo, uma das vítimas da Chacina da Baixada, foram gritadas pela sala do Tribunal do Júri de Nova Iguaçu, quando a juíza Maria Elizabeth Machado Louro encerrou a sessão do julgamento que condenou, por unanimidade, o ex-policial Carlos Jorge Carvalho a 543 anos de prisão, no começo da noite de quarta-feira dia 23 de agosto.

Carlos foi penalizado com 18 anos de prisão por cada um dos 29 homicídios cometidos no dia 31 de março de 2005; 12 anos, por uma tentativa de homicídio; e nove anos, por formação de quadrilha, além da perda do cargo de policial militar.

Com o resultado da sentença, o ex-policial, que já cumpria pena de sete anos e oito meses, por receptação de carro roubado, acumula condenações num total de 550 anos de prisão, e terá que cumprir, no mínimo, 30 anos de reclusão, pena máxima prevista na lei brasileira.

O terceiro e último dia do julgamento começou sob forte comoção. Durante a exposição de provas de acusação, o promotor Marcelo Muniz apresentou fotos e projeções de slides que mostravam os cadáveres das vítimas da chacina. Parentes das vítimas se sentiram mal, e tiveram que ser socorridos por ambulâncias do Corpo de Bombeiros. Ninguém precisou ser hospitalizado.

“Pensei que monstros calculistas só existissem em filmes, mas agora, estou vendo, estou frente a frente com um”, afirmou Cátia Patrícia da Silva, 27 anos, indignada ao ver a expressão de indiferença de Carlos diante das imagens dos mortos. O sobrinho dela, Marcos Vinícius, na época com 15 anos, foi uma das vítimas da chacina.

Indiganação de familiares
Todos os familiares estavam indignados com a postura de Carlos. Maria Madalena Soares, 29, tia de outra das vítimas, Felipe, na época com 15 anos, estava confiante na condenação do réu, mas não achava bastante para puni-lo. “Mesmo que ele seja condenado, não vou me conformar nunca”, dizia. “Mesmo que ele passe a vida toda na cadeia, ele não vai pagar pelo que fez. Pra tirar a vida de outra pessoa, tem que ser um monstro”, afirmava, enquanto era atendida por um enfermeiro, no pátio do tribunal.

O promotor Marcelo Muniz exortou os jurados a condenarem o réu por unanimidade. “Qualquer outro resultado”, afirmou Muniz, “é um crédito para quem não acredita na justiça”. O promotor baseou sua alegação nos testemunhos do dia anterior, quando três testemunhas, inclusive o único sobrevivente da chacina, reconheceram Carlos como um dos que atirou neles.

A juíza Maria Elizabeth suspendeu a sessão após instruir o júri, por volta das 16 horas. Os familiares e amigos de Carlos, que na segunda-feira eram quase tão numerosos quanto os familiares das vítimas da chacina, a essa altura, já tinham ido embora. Representantes de ONGs ativistas dos direitos humanos, familiares das vítimas e populares que passavam pela porta do Tribunal se uniram num momento de oração ecumênico em que pediam “para Deus iluminar os homens e mulheres (jurados do processo) lá em cima. Apesar de todos se dizerem “confiantes no MP e nas investigações”, era evidente a ansiedade em cada rosto.

Sentença
Precisamente às 18 horas e 30 minutos, a sessão foi reaberta. A leitura da sentença foi rápida, e ao ouvir “condenado por unanimidade”, os familiares das vítimas comemoravam a vitória “da justiça de Deus e dos homens”, como muitos afirmaram. Fotografado e filmado intensamente, Carlos, ainda aparentemente impassível, foi conduzido para fora do tribunal. Tanto o promotor Marcelo Muniz, quanto a juíza Maria Elizabeth acreditam que, juntos ou separados, todos os demais acusados devem ser julgados em dois meses.

*Aluno da Escola Popular de Comunicação Crítica do Observatório de Favelas

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