Por Francisco Amorim - do Zero Hora
Eternizada por produções cinematográficas de Hollywood nos anos 60 e 70, a campana policial viveu os últimos anos no anonimato. Teve seu brilho ofuscado pelos famosos grampos e escutas telefônicas. Recentemente, com a proliferação do tráfico de crack, a vigilância voltou a ser a principal arma na investigação policial.
Nas vigílias que se arrastam por dias, as máquinas analógicas e os rolos de filme deram lugar a modernas filmadoras digitais com visão noturna. A mudança de estratégia é uma exigência dos novos tempos, em que os agentes têm de se adequar às artimanhas dos traficantes. Para escapar de flagrantes, carregam pouca quantidade de droga, no que ficou batizado de tráfico formiguinha.
O desafio dos policiais é flagrar os criminosos com quantidade suficiente de droga que caracterize o tráfico. Caso contrário, serão enquadrados como usuários, garantia de liberdade.
Em praças, esquinas escuras e portões de escolas é travada uma guerra de estratégias entre policiais e vendedores. Atentos à artimanha dos traficantes, agentes das polícias Civil e Militar se revezam à paisana no monitoramento de locais suspeitos para reunir provas do comércio ilegal.
– Esses criminosos querem se aproveitar da legislação, que não prevê pena privativa de liberdade para usuários – explica o major André Luís Woloszin, subcomandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), responsável pelo policiamento no centro da Capital.
– Para provar que um suspeito com poucas pedras é traficante, apostamos no levantamento fotográfico que comprova a movimentação de clientes e a troca de droga por dinheiro – explica o diretor do Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc), delegado João Bancolini.
Se em uma investigação de tráfico internacional, as escutas telefônicas e a quebra de sigilo bancário são os principais instrumentos da polícia para rastrear movimentações financeiras e identificar criminosos, no varejo do crack é preciso investir no monitoramento pessoal dos suspeitos.
– Esses pequenos traficantes não têm conexões além daquela com o patrãozinho da boca. Trabalham em troca de pedras. A ação repressiva tem de ser localizada – explica o coronel Altemir Ferreira, comandante do Policiamento da Capital.
Para combater o tráfico de crack nas ruas, no entanto, as polícias têm de despender um número maior de agentes do que o necessário para seguir, por exemplo, os passos de criminosos que agem no atacado da droga. Enquanto em uma investigação de uma quadrilha internacional, um agente pode monitorar até nove celulares de suspeitos sem sair da delegacia, em uma campana em um parque são necessários de dois a quatro agentes, com uma ou duas viaturas.
– É um grande investimento de pessoal para um retorno menor de apreensão. O resultado positivo é outro: dar tranquilidade àquela comunidade e afastar a pedra de um novo usuário – afirma o delegado Márcio Zachello, da 1ª Delegacia do Denarc.
Uma operação do Denarc na tarde de quinta-feira consumiu o trabalho de oito policiais que se revezaram no monitoramento de um ponto de venda de crack sob o viaduto da Conceição, na Avenida Alberto Bins, no centro da Capital.
Apesar da movimentação indicar a venda da droga, durante a abordagem a quatro suspeitos, todos com antecedentes por tráfico e posse, apenas seis pedras foram encontradas com um deles, indiciado por tráfico.
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