Do Observatório de Favelas
No último dia 24 de novembro, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou duas importantes pesquisas acerca do tema juventude e violência no Brasil. A primeira diz respeito ao grau de exposição dos jovens de 12 a 29 anos à violência. Trata-se do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ), indicador que foi aferido em 266 municípios do país, calculado a partir do cruzamento de vários dados socioeconômicos, como número de homicídios, escolaridade, acesso ao mercado de trabalho, renda e moradia. A segunda pesquisa se constituiu em um levantamento da percepção da violência entre os jovens de 12 a 29 anos.
O relatório que apresenta o IVJ para os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes (266 cidades) diferencia-se de outros estudos similares por calcular o risco de exposição dos jovens a partir da relação entre indicadores sociais que vão além das taxas de homicídio. Assim, o documento identifica, por exemplo, que os jovens de 18 a 24 anos que não realizam funções remuneradas e não estudam formam o grupo no qual o IVJ apresenta o patamar mais elevado.
O IVJ também indica o risco de jovens perderem suas vidas por causa da violência letal. Nesta etapa o Índice incorpora o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), desenvolvido no âmbito do Programa de Redução da Violência Letal (PRVL), do Observatório de Favelas. De acordo com o IVJ, a faixa etária de jovens que apresenta maior risco de ser vítima de homicídio é aquela entre 19 a 24 anos. A estimativa é que de cada mil jovens brasileiros, cinco morrerão antes de completarem 24 anos. O IHA calcula o mesmo risco para adolescentes entre 12 e 18 anos e a estimativa é que de cada mil, 2,83 sejam assassinados. Entre jovens adultos de 25 a 29 anos, o que se espera é que morram 3,73 jovens antes dos 30 anos.
Os números se tornam mais preocupantes quando se toma em conta a segunda pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento estatístico das narrativas da violência constatou que 31% dos jovens entrevistados admitem ter facilidade para a obtenção de armas de fogo. Além disso, 88% declaram já ter visto corpos de pessoas assassinadas e cerca de 8% afirmaram que pessoas próximas a eles foram vítimas de homicídios.
Mecanismos de monitoramento são importantes para subsidiar ações de enfrentamento da violência letal, mas há muito que a sociedade brasileira está ciente do risco ao qual sua juventude está exposta. Não é novidade, por exemplo, que pessoas do sexo masculino e negros têm maior possibilidade de serem vítimas de assassinato ou ainda os muitos homicídios que são cometidos por nossas polícias a cada ano. Nesse último caso, novos números acabam de ser divulgados pela organização não governamental Human Rights Watch no relatório “Força Letal - Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo”. O estudo revela que as polícias carioca e paulista mataram, desde 2003, mais de 11 mil pessoas. Em 2008, para cada 23 pessoas que prendeu, a polícia carioca matou uma. Em São Paulo a proporção é de 348 presos para cada assassinato. As estatístocas ficam mais claras se tomamos em conta que nos Estados Unidos, no mesmo período, a polícia fez uma vítima para cada 37 mil presos.
Mais uma vez os números alertam para a necessidade de medidas conjuntas de prevenção. Mais uma vez os números demonstram que reduzir os homicídios de adolescentes e jovens é questão urgente e talvez o primeiro desafio a ser enfrentado na construção de uma sociedade mais justa. A questão central é quando os números deixarão de ser estatísticas alarmantes e serão capazes de sensibilizar efetivamente a sociedade para a construção de um mundo que tenha como princípio a valorização da vida.
Acesse aqui o Relatório completo do Índice de Vulnerabilidade Juvenil
Acesse o relatório Força Letal - Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário