quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Rudolph Giuliani ou Sérgio Carvalho


Por Aurílio Nascimento, do Casos de Polícia

O ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani será contratado pelo governo do Rio de Janeiro para assessorar a segurança pública na cidade, com vistas aos eventos olímpicos futuros, e, com certeza, não vai cobrar barato. No México, para explanar suas ideias, teria cobrado a bagatela de oito milhões de dólares.

Giuliani ficou famoso no mundo inteiro depois que sua administração conseguiu reduzir os índices de criminalidade na cidade de Nova York, passando a metrópole a ser considerada uma das mais seguras do mundo.

O plano de Rudolph Giuliani teve como base o trabalho conjunto do cientista político James Wilson e do psicólogo criminalista George Kelling, publicado em 1982, cujo título é: "A Polícia e a segurança da comunidade". Nesse trabalho, os autores utilizam a figura de uma janela quebrada e não consertada, para explicar que tal anormalidade levava a outra. Se algo está danificado, logo ninguém se importa com aquilo. Assim, se alguém por vandalismo destruir o que ainda se encontra intacto, nada vai acontecer. A teoria ficou conhecida como broken windows e, quando implementada por Rudolph Giuliani, recebe o nome de Tolerância Zero.

Não há dúvidas de que o sucesso alcançado pela implementação da Teoria da Janela Quebrada ou Tolerância Zero transformou a cidade mais violenta dos Estados Unidos na mais pacifica, alavancando o turismo, a prestação de serviços, e transformando o que antes eram antros degradantes em locais que todos poderiam frequentar, remodelados.

O sucesso do senhor Rudolph Giuliani é inquestionável. Entretanto, existe uma grande distância entre as medidas adotadas em Nova York e a realidade do Rio de Janeiro. Em outras grandes cidades, como a do México, onde foi contratado a peso de ouro, tentou replicar a experiência e o fracasso foi total.

Se os burocratas que tiveram a infeliz ideia de sugerir ao governo do Rio de Janeiro contratar o senhor Rudolph Giuliani tivessem um pouco de parcimônia com o dinheiro público, eles por certo iriam consultar o senhor Sérgio de Carvalho. Já ouviram falar dele? Não? Pois bem.

Sérgio Carvalho é professor. Em meados do ano de 2002, tornou-se síndico do prédio considerado o maior antro de criminalidade existente em Copacabana. Trata-se do Edifício Master. Com 256 apartamentos conjugados, e quase 500 moradores, o Master era um verdadeiro inferno. Prostituição, bocas de fumo, esconderijo de marginais, bagunça, desrespeito, pontos de compra de objetos roubados, tudo o que o Código Penal pudesse elencar existia ali. Os apartamentos não valiam grande coisa. O documentarista Eduardo Coutinho ganhou vários prêmios com um documentário sobre o edifício e seus moradores, suas angústias e seus dilemas.

Logo após a realização do documentário, o professor Sérgio Carvalho deu início a uma grande reforma. Expulsou a prostituição do local, estabeleceu rígidas regras para uso das partes comuns. A limpeza ganhou destaque. Em todos os andares foram instaladas câmeras de vídeo, e seguranças na portaria 24 horas por dia. Conscientizou os funcionários sobre a importância de não se afastarem um milímetro do que era estabelecido. O resultado foi visto em pouco tempo. Hoje, o Edifício Master possui um dos aluguéis mais caros de Copacabana para apartamento conjugados. A valorização dos imóveis é algo surpreendente. Um amigo comprou um apartamento no ano passado no Master, e hoje recusa qualquer oferta que não contemple pelo menos 60% do valor pago anteriormente. Nem a Bolsa de Valores foi capaz disto.

Tenho absoluta certeza de que, se os burocratas governamentais fossem conversar com Sérgio Carvalho, não iria sair caro, talvez até ficasse de graça. Certamente, ele iria dizer aos responsáveis pelo governo, seja na esfera municipal como na estadual, que, para começar, Copacabana teria de deixar de ser um ícone da prostituição. Os hotéis de alta rotatividade deveriam ser rigidamente fiscalizados. Prostitutas e travestis seminus na Avenida Atlântica deveriam ser algo inimaginável. A população de rua deveria ser atendida, e não permanecer ao relento. O uso de drogas na praia e no calçadão, principalmente quando o dia amanhece e os idosos começam a caminhar, deveria ser combatido. Banheiros públicos não poderiam faltar. O comércio ambulante deveria deixar de ser um jogo de gato e rato entre a Guarda Municipal e aqueles que praticam. Multas severas, apreensão de mercadorias sem direito a retorno, deveriam ser o ponto. Pedintes deveriam ser levados à delegacia e identificados.

Não sei o que levou os assistentes governamentais a sugerirem a contratação de Giuliani ao governo. Pode ser uma jogada de propaganda; pode ser desconhecimento mesmo. O fato é que vamos pagar em dólares, e não resultará em nada.

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