segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Expedição constata aumento do tráfico de drogas na estrada Brasil-Peru


Por Altino Machado - do Blog Amazônia

Um grupo de 15 pessoas realiza uma expedição para documentar os impactos ambientais e socioculturais decorrentes da construção da rodovia Interoceânica, que liga o Brasil ao Peru, prevista para ser concluída em 2011. A “Expedição Interoceânica - O Encontro dos Povos” percorrerá em um mês, entre ida e volta, aproximadamente 13 mil quilômetros.

Os aventureiros partiram de Brasília no dia 27 de dezembro e já passaram por Primavera do Leste, Cuiabá, Pimenta Bueno, Porto Velho e Rio Branco (no Brasil). Já estão em Iñapari, no Peru, e de lá seguem para Puerto Maldonado, atravessam a Ponte Inambari, alcançam Cuzco, Juliaca, Puno e seguem para Ilo, Matarani, San Juan e Lima, entre outras cidades peruanas.



- Fotos e depoimentos colhidos durante a viagem usaremos na edição do livro “Interoceânica: O Encontro dos Povos”, previsto para ser lançado em junho de 2010. As filmagens serão usadas num documentário que incluirá a exibição do mesmo em diversas esferas de governo, escolas, universidades, salas de cinema, e abrirá caminho para palestras e encontros de discussão em centros acadêmicos - informa o peruano Carlos Santander, coordenador da expedição.

A Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional da América do Sul prevê cinco corrredores de transporte através da Amazônia Ocidental, subindo os Andes para a costa do Pacífico. As organizações de defesa ambiental advertem que é uma ameaça aos grupos indígenas e à integridade biológica da região de cabeceiras da Amazônia Ocidental.

O Eixo Viário Interoceânico Sul tem 2,6 mil quilômetros de extensão só no Peru. No lado brasileiro já existe uma rodovia de 4,3 mil quilômetros que vai da fronteira com Peru e Bolívia até Santos (SP).

O projeto rodoviário impacta uma área que abrange 32% do Peru e beneficiará pelo menos 7 milhões de pessoas que vivem nas regiões de Madre de Dios, Cuzco, Puno, Arequipa, Apurímac, Ayacucho, Ica, Tacna, Moquegua, Loreto, San Martin, Ucayali, Huanuco e adjacências.

A rodovia é uma construção brasileira e peruana. Ela liga os dois países a partir da fronteira. Seus 2,6 mil quilômetros, abrem caminho entre trechos da floresta amazônica e a Cordilheira dos Andes para acessar os portos peruanos de Matarani, Ilo e San Juan.

Cerca de 2 mil quilômetros de extensão da rodovia passam por pelo menos oito reservas florestais onde vivem cerca de 51 povos indígenas. Madeireiras clandestinas invadem as reservas indígenas, além de conflitos entre fazendeiros, posseiros e garimpeiros.

De acordo com a Expedição, as polícias de cada país, bem como os órgãos de defesa estão preocupados com as questões de fronteira, com a possibilidade de uma nova rota de contrabando e tráfico e ainda e da exploração dos recursos naturais de forma ilegal.

A estrada está sendo construída para favorecer o comércio entre os dois países e se tornar num rota de turismo. A rodovia possibilitará o escoamento de produtos brasileiros aos portos peruanos, além de reduzir custos e distâncias para que possam ser exportados para Ásia e costa oeste dos Estados Unidos.

Nada disso aconteceu até agora, mas os dados da Polícia Federal indicam que a rodovia tem facilitado o escoamento da cocaína produzida no Peru e na Bolívia.

A PF apreendeu no Acre, em 2009, 1,3 tonelada de drogas, sendo 1 tonelada de cocaína, 148 quilos de maconha e 147 quilos de pasta-base de cocaína. Foram apreendidos mais entorpecentes em 2009 que o total dos últimos oito anos.

Na avaliação da PF, o aumento das apreensões decorre da atuação dos trabalhos de repressão e combate ao tráfico internacional. A quantidade de entorpecentes aprendidos no Acre poderia ultrapassar 2 toneladas caso a PF somasse o que foi apreendido em outros estados, cujas investigações tiveram início no Estado.

A fronteira do Brasil com a Bolívia, maior produtor mundial de cocaína, tem 3,4 mil quilômetros, ou seja, 282 quilômetros a mais que a problemática fronteira dos Estados Unidos com o México.

Membros da iniciativa MAP têm alertado que o coração da Amazônia Sul-Ocidental, formado pelo estado peruano de Madre de Diós, o estado brasileiro do Acre e pelo estado boliviano de Pando, denominado Região MAP, encontra-se em um momento decisivo de sua história.

De acordo com eles, os planos de integração regional, os avanços na infra-estrutura e as exigências de uma vida melhor nas sociedades da região geram crescentes demandas sobre os recursos naturais e seus ecossistemas.

- O resultado é que este território se converteu em um cenário regional de mudanças globais onde a pobreza, a fome, as enfermidades, o analfabetismo e a contínua degradação dos ecossistemas são causas de grande preocupação na região - afirma o MAP.

Os participantes da “Expedição Interoceânica” partiram de Rio Branco neste domingo, 3, com destino a Puerto Maldonado, no Peru. Vão percorrer cerca de 700 quilômetros.

Passaram por Xapuri, onde nasceu o líder sindical e ambientalista Chico Mendes, além de Assis Brasil, já na fronteira com o Peru, onde realmente começa a estrada Interoceânica.

A expedição conta com apoio Andrade Gutierrez, uma das empreiteiras responsáveis pela construção do trecho peruano da Interoceância, além da Embaixada do Peru, Exército Brasileiro.

Mais informações sobre a aventura no blog Expedição Interoceânica.

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