segunda-feira, 29 de março de 2010

'Novos cangaceiros' aterrorizam interior baiano


UOL Notícias


A ação de grupos fortemente armados que invadem pequenos municípios e aterrorizam moradores com sequestros, assaltos a bancos, casas lotéricas, prédios públicos e agências dos Correios virou uma realidade frequente no interior da Bahia. Esse tipo de ação criminosa, realizada pelos chamados “novos cangaceiros”, foi um dos temas da 35ª Reunião do Colégio de Secretários de Segurança Pública do Nordeste, que aconteceu no dia 18 deste mês, em Salvador.

Durante o seminário realizado em Salvador, os secretários da Segurança Pública e seus assessores contaram que os assaltantes que agem em grupo no interior do Nordeste ganharam o apelido de “novos cangaceiros” em referência a Virgulino Ferreira da Silva (1897/1938), o Lampião, o mais famoso “cangaceiro” do Brasil. Do começo da década de 1920 até a sua morte, Lampião e seu grupo praticaram ações de banditismo principalmente nos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia.

A mais recente vítima dessa modalidade de crime foi a cidade de Brotas de Macaúbas, na região da Chapada Diamantina, a 590 km de Salvador. No último dia 5, oito homens fortemente armados invadiram o pequeno município de apenas 14 mil habitantes, assaltaram a agência do Banco do Brasil, de onde levaram cerca de R$ 200 mil. Os assaltantes também fizeram comerciantes e um policial reféns, cortaram algumas linhas telefônicas da cidade e deixaram Brotas de Macaúbas atirando para o alto.

Menos de um mês antes, no dia 8 de fevereiro, cerca de 20 homens promoveram o terror na cidade de Amargosa, no Recôncavo Baiano, conhecida pelos festejos juninos e pela “tranquilidade”. Depois de bloquearem o principal acesso à cidade, que tem cerca de 40 mil habitantes, os “novos cangaceiros” assaltaram as agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Os assaltantes, que estavam encapuzados e armados com fuzis, fizeram clientes dos bancos e policiais como reféns e conseguiram fugir em dois veículos. A polícia e as duas instituições bancárias não informaram a quantia levada.

Em depoimento à polícia, Agripino Vieira, um dos reféns, contou que “ficou com medo de morrer”. “Eles assaltaram o meu carro e me jogaram na carroceria de um caminhão, também tomado de assalto pelo grupo. Em seguida, os bandidos colocaram mais dois reféns no meu carro e saíram em disparada pelo centro. Pensei que fosse morrer”, afirmou.

No segundo semestre do ano passado, em Umburanas, cidade de 17 mil habitantes, os “novos cangaceiros” festejaram a fuga dando mais de 50 tiros para o alto - em menos de uma hora na cidade, eles assaltaram três lojas, uma agência bancária, uma casa lotérica e dois prédios públicos. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia informou que não contabiliza especificamente os crimes praticados pelas quadrilhas de “novos cangaceiros”. Nas estatísticas policiais, a prática é computada geralmente como assalto a banco ou a estabelecimentos comerciais.

Mas, segundo um levantamento feito pelo UOL Notícias em sites e jornais de Salvador e do interior, houve pelo menos 12 casos em que quadrilhas armadas aterrorizaram pequenas e médias cidades da Bahia apenas este ano. O primeiro caso, registrado em 5 de janeiro, aconteceu em Santa Bárbara, e foi um dos mais ousados. No município, os bandidos assaltaram a agência do Banco do Brasil. Antes de praticarem o assalto, os ladrões foram ao prédio onde estão localizadas as polícias Civil e Militar e trancaram o local com um cadeado, ganhando tempo para fazer o roubo tranquilamente.

Na agência, eles invadiram o local pelo telhado, cortaram a energia do prédio e roubaram o cofre. O dinheiro levado não foi informado nem pelo Banco do Brasil, nem pela polícia. Com a ação dos bandidos, a cidade ficou sem condições de saque financeiro. “O pior é que, geralmente, essas quadrilhas conseguem fugir com facilidade das cidades, pois possuem mais armamento do que o efetivo policial local. Não é à toa que escolhem pequenos municípios para agir”, afirmou o comerciante Rafael Neto, 33, que vendeu o seu estabelecimento em Feira de Santana (108 km de Salvador) depois de ter sido assaltado quatro vezes nos últimos dois anos. “Na última vez, eles (os assaltantes) contaram que precisavam de dinheiro e comida porque estavam planejando um ‘arrastão’ em duas cidades do interior”.

Durante o seminário realizado em Salvador, o secretário da Segurança Pública da Bahia, César Nunes, disse que é preciso intensificar o combate à criminalidade no interior. “É importante multiplicarmos as ações positivas e combater os crimes que são transnacionais”, afirmou. De acordo com o secretário, esse tipo de ação criminosa deve ser combatida com a vigilância das fronteiras e o aumento do policiamento. Ele informou que a polícia baiana vai colocar mais 3.000 homens nas ruas, e o interior será uma prioridade. Além disso, cerca de 300 novos carros foram adquiridos para as polícias Militar e Civil.

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