segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Produção de drogas sintéticas em Minas atrai classe média para o tráfico

Por Pedro Rocha Franco - Estado de Minas

O modismo das festas raves e trances em Belo Horizonte e a difusão da música eletrônica para o interior do estado nos últimos anos são acompanhados de um fenômeno: a proliferação do uso de drogas sintéticas, principalmente LSD e ecstasy. Antes produzidos exclusivamente na Europa e introduzidos no Brasil pelo escambo da cocaína, os entorpecentes tiveram tamanho aumento de mercado que, a partir deste ano, a droga passou a ser produzida também em Minas, com o tráfico da matéria-prima do ecstasy, o MDMA (metilenodioximetanfetamina). Neste ano, foram feitas as três primeiras apreensões da substância no estado.

Quase metade dos presos pela Polícia Federal desde o início do ano são traficantes de drogas sintéticas e haxixe e, nesse caso, a maior parte formada por pessoas de classe média alta. Segundo o chefe da Delegacia de Repressão de Entorpecentes, João Geraldo, empresários, médicos, advogados, DJs e universitários têm sido presos com frequência atuando na noite de BH e do interior. Com o aumento do consumo dos entorpecentes, a PF tem concentrado a atuação em um público-alvo distinto. “Andam bem trajados, em carros bons e não são abordados pela PM, tendo tranquilidade para atuar”, diz o delegado. “A molecada está se distanciando da maconha e buscando o haxixe e as sintéticas, que têm efeitos mais fortes e dão um status melhor”, afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, delegado João Geraldo.

E aproveitam também a possibilidade de transformar pequenas quantidades em estoques até milionários de droga. A mistura de 10 gramas do pó MDMA com produtos químicos possibilita a produção de quatro ou cinco comprimidos, tendo concentração variável de 20% até 70%. Mas, em Minas, ainda não foram estourados laboratórios. No Brasil, segundo a PF, os únicos dois descobertos foram no Paraná. “A fabricação demanda certa tecnologia, mas é possível fazer num pequeno apartamento”, diz o delegado.

No caso da ocorrência da primeira apreensão do MDMA, feita no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, foram pouco mais de 300 gramas, o que, segundo o Setor Técnico Científico da Polícia Federal, seria suficiente para a produção de mais de 1 mil comprimidos de ecstasy, com valor estimado em R$ 50 mil.

Envoltos em sacos plásticos escondidos em tênis, misturados com borra de café e ainda revestidos com uma camada de papel-carbono, o traficante tinha todos os cuidados para tentar burlar a fiscalização de cães farejadores e dos aparelhos de raios X. No entanto, a PF descobriu o esquema a partir de uma apreensão anterior de 50 comprimidos, o que resultou numa investigação mais aprofundada do jovem. Morador da Região Centro-Sul, ele viajava sozinho para a Europa.

O traficante não confirmou se venderia a matéria-prima para fabricantes de ecstasy ou se a venderia in natura em boates e festas. Na capital, os principais pontos de vendas estão localizados onde o movimento noturno é mais agitado, tendo foco principal na Savassi e no Sion, ambos na Região Centro-Sul. Segundo o delegado, dado o efeito, a droga tem sido vendida no seu formato original, bastando a mistura num líquido. Seja numa garrafinha de água ou num copo de uísque ou vodca, o pó é misturado e a dose, vendida. O custo varia entre R$ 30 e R$ 50. Basta pingar uma gota no olho, nariz ou na língua e se tem o efeito alucinógeno. “A apreensão é difícil. Imagine um PM abordando alguém só por estar com uma garrafa na mão”, afirma.


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