terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O futuro do Rio e as UPPs


Por Cecília Olliveira

Foto: Ratão Diniz / Imagens do Povo
Sérgio Cabral foi reeleito governador do Rio de Janeiro com a maior votação já recebida por um candidato ao governo do Rio em primeiro turno, cerca de 70%. O carro chefe da campanha de reeleição foram as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) - instaladas em 14, das 625 favelas e complexos do estado. Em seu discurso de posse, feito no primeiro dia do ano, Cabral reiterou "que em 2014 não haverá uma comunidade, um bairro do nosso Estado dominado pelo poder paralelo, seja miliciano, seja traficante", diante de muitos aplausos.

Promessas como esta não é novidade no Rio de Janeiro. Moreira Franco, que governou o Rio de Janeiro entre 1987 e 1991, assim que assumiu o estado prometeu acabar com a criminalidade em 100 dias. “Isso é uma bravata de início de governo, uma bobagem. Nada disso vai acabar. A sensação de medo da população pode até diminuir por causa das UPPs, mas acabar com o crime, milícia e bocas de fumo? Não vai”, afirma o sociólogo e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), autor de vários estudos sobre favelas, Luiz Antonio Machado Silva.

Para Machado, o acordo feito entre Eduardo Paes e Sérgio Cabral, municipalizando a UPP Social, não é a melhor forma de enfrentar o problema. “É um sinal da hiperpolitização da questão. O Ricardo Henriques era o quadro técnico mais expressivo do governo Cabral. Esse é um desvio politizador que não havia necessidade de haver”, explica ele, que reitera não ser contra as UPPS. “Não dá pra ser contra. Tem muita critica, mas tem aprovação muito grande”. Ricardo Henriques, ex-secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos e responsável pela UPP Social, assumiu hoje (04/01) a presidência do Instituto Pereira Passos (IPP), vinculado à Prefeitura do Rio de Janeiro.

O coordenador do Instituto Raízes em Movimento, localizado no Complexo do Alemão, Alan Brum, também não acredita no discurso do governador reeleito. “Não há como acreditar nisso. Não enquanto não houver uma política articulada. O grande problema da política de segurança pública está na reafirmação da criminalização da pobreza, da criminalização do território. A favela é só a ponta do varejo”, afirma. Ele chama a atenção ainda para a incerteza da população acerca do futuro das comunidades ocupadas. “Ou você está nas mãos do exército, ou está nas mãos da milícia, ou esta nas mãos do tráfico. Sempre tem algum grau de opressão. Isso não é normal em nenhum lugar. Não pode ser. Não abraça os anseios da população. Existe um projeto que diz que a ocupação vai durar 25 anos, mas como é isso? O que vai acontecer depois, se o tráfico voltar? A população não sabe”, explica.

Segundo Alan, o governo do estado não percebeu a relevância da UPP Social. “Discordo que este projeto vá para o município. Este projeto é essencial para articular ações dentro do território, organizar a entrada de novos atores, como as empresas, que estão fazendo frente ao comércio que já estava lá estabelecido. Mediar forças dentro do território, tanto do poder público, quanto de mercado, é papel do governo do estado”, conclui.

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