Por Cecília Olliveira
O assunto é realmente chato. Estas novelas policialescas me tiram do sério, apesar de serem assistidas massivamente. Você acorda, vai à padaria, volta, toma café vendo TV, sai, pega o ônibus para ir trabalhar, trabalha, pega outro ônibus, vai pra escola, pega outro ônibus e vai pra casa. A trajetória de todo um dia é regada a opiniões de pseudo-especialistas-de-programa-do-faustão, que por sinal, (uau!) é um grande crítico, diga-se de passagem, de qualquer assunto.
Pois é... Foram dias e dias de novela Eloá e Lindemberg. Graças a Deus acabou, pena que sem final feliz. Pois bem. Aqui começa de fato este artigo: “sem final feliz”.
Sem final feliz. Mais um (des) caso que coloca em cheque a política atual de segurança pública. Daí virão vários “porquês”. Por que um menino, ao receber um não, quer acabar com a vida de uma menina? Por que tantos dias de sufoco? Por que cobertura 24h pela grande mídia?
E as respostas? Será porque as crianças são criadas como donas do mundo por pais com sentimento de culpa por falta de tempo, despreparados ou incapazes? Será que a polícia não tinha meios para acabar com isso antes? Será que a queda das bolsas e o quase colapso econômico mundial não é notícia? Não temos estrutura pedagógica para identificar estes desvios mais cedo?
Vamos para além disso. Vamos primeiro para a preparação técnica da polícia. Dias e dias de negociação, permitindo inconstância do seqüestrador. Volta de ex-refém ao apartamento. Explosão sem levar em conta a existência de alguém atrás da porta do apartamento. Entrada simultânea e desorganizada. Imobilização deficiente do seqüestrador. Confusão na saída do apartamento que dificultou o socorro médico da refém baleada na cabeça, que foi carregada pelos policiais sem o mínimo cuidado. Mas são só alguns errinhos! Poucos, mas que custaram a vida de uma pessoa e a desconstrução da vida de outros tantos. Isto sem falar sobre os tiros ouvidos equivocadamente e que foram o start para a invasão descoordenada e sobre a divulgação da constatação da morte da refém, voltando atrás logo em seguida, para confirmar (de novo) a morte dois dias depois.
Agora vamos para a política. O cabeça da polícia civil e/ou militar, quem é? O manda chuva é eleito por indicação política!!! Ou seja, “não interessa se você não tem preparo. Importa é que você é meu chapa!”
Ora! Esse é um retrato fidedigno do país do “jeitinho”, do “dá cinquentinha pra ele não te multar”, do “oba! o caixa errou no troco e a diferença é minha!”. Se você se enquadra em qualquer das situações citadas, ou similares, não tem o mínimo direito de reclamar de absolutamente nada. A mesma pessoa que se gaba de ter ficado com um troco que não era seu é exatamente a caricatura de um Delúbio Soares.
Ok. Sabemos exatamente onde o problema está. Mas como solucionar um problema desta dimensão escolhendo como representantes legais Netinho de Paula, Clodovil, Frank Aguiar? Sinceramente, casa de ferreiro, espeto de pau.
Agora eu pergunto: Um “aventureiro” indicado a mandatário da organização que prima pela segurança de um estado inteiro tem competência para gerir uma crise desta envergadura? Não. Não tem. Isto permite que o senhor Marcos Do Val, instrutor da SWAT, diga em rede nacional “tenho vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia fez isso”? Não, não permite. A frase tem explicação? Não. Não tem.
Ceci, você está escrevendo muuuuuuuuuito! Parabéns. Essas especializações estão realmente te tornando ESPECIALISTA em segurança pública (risos). Acho que vou usar esse texto num dos cursos que darei para a Polícia Militar daqui. Bjs!
ResponderExcluirMe pergunto o "motivo, causa, razão e circunstância" (parafraseando o querido Prof. Girafalles)de textos tão bem acabados e lúcidos, que cumprem sua função de questionar as gafes do nosso sistema administrativo, não terem o devido espaço em jornais de peso. Deixo aqui meu protesto por termos tanta gente como a Cecilia longe ainda dos olhares de muitos leitores. Mas tudo tem seu tempo, e quando chegar o momento certo, as palavras certas serão lidas. Enquanto isso, vamos nos enxergando no "E tem jeito?". bjs. ale
ResponderExcluir