quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E tem jeito?



Por Cecília Olliveira


O assunto é realmente chato. Estas novelas policialescas me tiram do sério, apesar de serem assistidas massivamente. Você acorda, vai à padaria, volta, toma café vendo TV, sai, pega o ônibus para ir trabalhar, trabalha, pega outro ônibus, vai pra escola, pega outro ônibus e vai pra casa. A trajetória de todo um dia é regada a opiniões de pseudo-especialistas-de-programa-do-faustão, que por sinal, (uau!) é um grande crítico, diga-se de passagem, de qualquer assunto.

Pois é... Foram dias e dias de novela Eloá e Lindemberg. Graças a Deus acabou, pena que sem final feliz. Pois bem. Aqui começa de fato este artigo: “sem final feliz”.

Sem final feliz. Mais um (des) caso que coloca em cheque a política atual de segurança pública. Daí virão vários “porquês”. Por que um menino, ao receber um não, quer acabar com a vida de uma menina? Por que tantos dias de sufoco? Por que cobertura 24h pela grande mídia?

E as respostas? Será porque as crianças são criadas como donas do mundo por pais com sentimento de culpa por falta de tempo, despreparados ou incapazes? Será que a polícia não tinha meios para acabar com isso antes? Será que a queda das bolsas e o quase colapso econômico mundial não é notícia? Não temos estrutura pedagógica para identificar estes desvios mais cedo?

Vamos para além disso. Vamos primeiro para a preparação técnica da polícia. Dias e dias de negociação, permitindo inconstância do seqüestrador. Volta de ex-refém ao apartamento. Explosão sem levar em conta a existência de alguém atrás da porta do apartamento. Entrada simultânea e desorganizada. Imobilização deficiente do seqüestrador. Confusão na saída do apartamento que dificultou o socorro médico da refém baleada na cabeça, que foi carregada pelos policiais sem o mínimo cuidado. Mas são só alguns errinhos! Poucos, mas que custaram a vida de uma pessoa e a desconstrução da vida de outros tantos. Isto sem falar sobre os tiros ouvidos equivocadamente e que foram o start para a invasão descoordenada e sobre a divulgação da constatação da morte da refém, voltando atrás logo em seguida, para confirmar (de novo) a morte dois dias depois.

Agora vamos para a política. O cabeça da polícia civil e/ou militar, quem é? O manda chuva é eleito por indicação política!!! Ou seja, “não interessa se você não tem preparo. Importa é que você é meu chapa!”

Ora! Esse é um retrato fidedigno do país do “jeitinho”, do “dá cinquentinha pra ele não te multar”, do “oba! o caixa errou no troco e a diferença é minha!”. Se você se enquadra em qualquer das situações citadas, ou similares, não tem o mínimo direito de reclamar de absolutamente nada. A mesma pessoa que se gaba de ter ficado com um troco que não era seu é exatamente a caricatura de um Delúbio Soares.

Ok. Sabemos exatamente onde o problema está. Mas como solucionar um problema desta dimensão escolhendo como representantes legais Netinho de Paula, Clodovil, Frank Aguiar? Sinceramente, casa de ferreiro, espeto de pau.

Agora eu pergunto: Um “aventureiro” indicado a mandatário da organização que prima pela segurança de um estado inteiro tem competência para gerir uma crise desta envergadura? Não. Não tem. Isto permite que o senhor Marcos Do Val, instrutor da SWAT, diga em rede nacional “tenho vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia fez isso”? Não, não permite. A frase tem explicação? Não. Não tem.

2 comentários:

  1. Ceci, você está escrevendo muuuuuuuuuito! Parabéns. Essas especializações estão realmente te tornando ESPECIALISTA em segurança pública (risos). Acho que vou usar esse texto num dos cursos que darei para a Polícia Militar daqui. Bjs!

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  2. Me pergunto o "motivo, causa, razão e circunstância" (parafraseando o querido Prof. Girafalles)de textos tão bem acabados e lúcidos, que cumprem sua função de questionar as gafes do nosso sistema administrativo, não terem o devido espaço em jornais de peso. Deixo aqui meu protesto por termos tanta gente como a Cecilia longe ainda dos olhares de muitos leitores. Mas tudo tem seu tempo, e quando chegar o momento certo, as palavras certas serão lidas. Enquanto isso, vamos nos enxergando no "E tem jeito?". bjs. ale

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