sábado, 6 de dezembro de 2008

E não é que o PCC existe?



Por Cecília Olliveira

Campinas, no interior de São Paulo, foi, mais uma vez, campo dos noticiários policiais. A cidade berço da família Oliveira, especialista em assaltos a banco e seqüestros que atuou muito nas décadas de 80 e 90, esteve novamente nas manchetes policiais.


A Polícia Civil da cidade encontrou em um laboratório de refino de droga uma réplica de bazuca similar à usada pelo Exército brasileiro no período da Segunda Guerra Mundial. De acordo com informações divulgadas, ela seria usada para realizar atentados coordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Além da arma, foram encontradas duas bombas artesanais em formato de míssil. O delegado Marcos Galli Casseb, titular da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), confirmou que recebeu informações de que artefatos seriam usados para explodir uma repartição pública na cidade, mas preferiu não dizer onde.


Um homem foi preso em flagrante. As armas passarão por perícia. Para o delegado, há outros membros da quadrilha que poderão ser localizados a qualquer momento.

A polícia encontrou ainda 1 kg de cocaína, 1,5 kg de crack, pasta de coca, produtos químicos, 3 mil flaconetes para acondicionar a droga, papelotes com maconha, três aparelhos de telefone celular e balança de precisão. Um inquérito foi aberto e encaminhado à Justiça.

Esta foi a notícia veiculada em todos os jornais do país. Aí me lembro que em 1993 o Primeiro Comando da Capital, PCC, foi fundado, e em 1995 denunciado no Jornal da Band, pela repórter Fátima Souza, após um motim numa cadeia de Hortolândia, também interior de São Paulo. A repórter cobriu o motim, notou que ele estava “organizado demais”, diferentemente dos outros, e resolveu entender o que estava acontecendo. Tanto investigou, que ouviu de Macalé, um detento que entrevistou e que orquestrara os presos no motim: “Os irmão agora estão unidos e vão mostrar sua força. Você ainda vai ouvir falar muito de nós. Acredite!”. Ele estava certo...

A repórter fez um dossiê das informações que conseguiu sobre a organização criminosa e colocou no ar no Jornal da Band. No dia seguinte foi desacreditada pelas autoridades e pelos colegas de profissão. Ouviu do então secretário de Estado de Adminstração Penitenciária, João Benedito Azevedo Marques, inúmeras negações. Como em setembro de 1997, em uma rebelião, onde o PCC estendeu, pela primeira vez, uma bandeira com as letras da facção. Ao questionar se a partir de então o secretário acreditava na existência do PCC, ouviu dele: “Bandeira tem até em escola, minha filha!”

Exato. Um exemplo de comprometimento com a sociedade. O secretário sequer se deu ao trabalho de estudar as denúncias da repórter. E assim seguiu o PCC. Foram seis anos de trabalho “em silêncio”, até que o governo resolveu acreditar na existência da facção. Mas com um detalhe, era tarde. A facção se solidificou, cresceu, se organizou.

E o que se viu depois deste “reconhecimento” foi uma sucessão de erros no combate às ações da facção que só a fez crescer. Transferências que ajudaram o PCC a se espalhar pelo país, entrada de celulares nas cadeias, constante subestimação do poder da organização.

Não creram que o PCC pararia cadeias simultaneamente em vários estados do país, que era capaz de detonar bombas em frente a prédios públicos, assaltar delegacias, matar seus desafetos dentro e fora das grades e resgatar integrantes das formas mais ousadas, humilhando a polícia.

Hoje eu me pergunto quando o estado vai parar de brincar de governar, porque nem PCC, nem Comando Vermelho, nem Terceiro Comando da Capital, nem as demais organizações criminosas estão brincando em serviço.

3 comentários:

  1. Perí fala para Cecí- Texto de Ceci muito bom. Recordo deste furo de reportagem . Esta jornalista, foi a primeira que conseguiu ter um contato; desvendar; descobrir o início dessa organização criminosa. Mas as autoridades como sempre não acreditaram, ou, tentaram esconder.Ou ainda pior; fingem que está tudo bem. Mas enfim, gostei muito do seu texto. Quer dizer, eu não. Perí gostou... Típico de um texto jornalístico. Objetivo na clareza do(s) fato(s).

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  2. É Cecília, como seria bom se todas as denúncias realizadas seja por jornalistas competentes, seja pelos cidadãos comuns de nosso país fossem levadas a sério. Com toda certeza não estaríamos vivendo este caos social em que estamos não é verdade? A violência fruto do descaso das autoridades está invadindo nossas casas, matando nossos jovens e não vislumbramos nenhuma reação daqueles que deveriam nos proteger, pior nem sabemos mais quem são os bandidos.
    Parabéns pela coragem.

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