quinta-feira, 14 de maio de 2009

Brincando com fogo

Por Cecília Olliveira

Maio de 2006. Mais especificamente os dias entre 16 e 21 de maio. Em cinco dias São Paulo se viu obrigada a entender e assumir publicamente a existência do Primeiro Comando da Capital. O PCC mostrou sua força, seu alcance, seu poder de fogo e de ação.

Cinco dias críticos, mas os ataques começaram mesmo no dia 12 de maio. Três anos se passaram e praticamente nada foi feito, já que 63% das investigações sobre a morte de civis durante estas ações foi arquivada. Foram 102 casos em que policiais foram suspeitos de matar 170 pessoas, de acordo com dados da Ouvidoria da Policia de SP. A própria polícia admite que houve fortes indícios de excessos cometidos por policiais. De acordo com dados levantados pela Folha de S. Paulo junto a Ouvidoria, do total de mortos, 89 foram vítimas de 54 atentados com "características de execução" (sem chance de defesa para a vítima). Dos 54 casos, 33 já estão arquivados e 16 continuam em andamento. Como as investigações não são centralizadas, não é possível saber o motivo do arquivamento de cada caso, nem se a decisão de encerrar a investigação partiu da Polícia Civil, da Promotoria ou da Justiça.

No resumo da história, só me resta crer que as autoridades de São Paulo (bem como todas as outras) dão legitimidade ao crime através de sua posição esquiva. A situação toda foi deflagrada porque o PCC não concordava com uma série de transferências e interrogatórios de presos importantes na hierarquia da facção.

Isto me faz ter algumas dúvidas. Qual é o poder vigente? Quem tem mais preparo para o combate? Porque os poderes de decisão ainda são descentralizados? Porque o corporativismo da polícia não é freado? Porque a impunidade é uma regra? Tomando como parâmetro o mês de maio de 2006 as respostas são mais claras do que deveriam. O dia das mães daquele ano foi um prelúdio de uma semana negra. O toque de recolher anunciado na segunda feira, dia 14 de maio, mostrou com clareza que quem manda em São Paulo não é o Governador, é o “Patrão”, como é chamado o líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, ou simplesmente Marcola. O estrago foi tanto que o secretário encerrou sua carreira política, Geraldo Alckmin teve sua candidatura à presidência falida e Cláudio Lembo, o governador inteerino que recusou ajuda federal, ninguém ouve falar.

O pior de tudo isso é que mesmo diante de uma “aula” como a data há três anos, os governos federal, estadual e municipal, não aprendem. Parecem ter cabulado aula. Ninguém toma providências, esclarece ou informa a população sobre o perigo real que a ronda.

Diante de tais fatos pode passar pela cabeça de muitos que estamos num caminho sem volta, o que não é verdade. Segurança Pública tem jeito. Faltam posicionamento pessoal da sociedade, que acha que isso é problema do Estado - como se sociedade fosse um pedaço “à parte” do Estado - e posicionamento político, já que reestruturação do sistema jurídico e penitenciário não é uma boa haste pra bandeira política.

Se você espera que algo mude, é bom começar a se mexer. Não espere que a política se molde a seu mundinho e nem adianta achar que sua vida não nem nada a ver com isso. Se gabar de que não entende nada de política e se orgulhar disso, não deve entrar em questão. Nada impede que a sociedade se abstenha de ‘tomar gosto’ pela política, mas uma coisa é certa: ela não pode reclamar dos frutos desta colheita.


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