Do Blog Repórter de Crime
Não adianta tentar tapar o sol com a peneira. Nesse grave momento, em que pela primeira vez os bandidos conseguiram derrubar um helicóptero da polícia, é preciso humildade por parte das autoridades de segurança pública para reconheceram que mais uma vez a polícia falhou. Apesar de a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil (Cinpol) ter interceptado telefonemas de bandidos, nos quais avisavam que iriam invadir o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, a Secretaria de Segurança, por meio da Polícia Militar, fracassou na tentativa de impedir o confronto entre os traficantes de facções rivais. Policiais do 6o Batalhão e do Batalhão de Choque estavam na região do conflito, mas não tiveram êxito no combate aos criminosos.
É lamentável que isso tenha ocorrido justamente quando a polícia tentou fazer algo para impedir a invasão - contrariando a postura que tem tido em outras guerras do tráfico, como a do Complexo da Maré, onde teriam morrido 50 pessoas. O caso já está repercutindo na mídia internacional que não poderia evitar referências ao fato de o Rio ter ganho as Olimpíadas de 2016, apesar de o quesito segurança ter passado raspando na sabatina feita pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O "New York Times" fez questão de lembrar que a nova onda de violência ocorreu a cerca de 10 quilômetros do Maracanã, um dos palcos dos Jogos Olímpicos e sede da final da Copa de 2014.
Visivelmente abatido, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admitiu em entrevista coletiva que o serviço de inteligência da PM - P-2 - soube na sexta-feira da ameaça de invasão ao Morro dos Macacos. Ele reconheceu, porém, que não foi possível saber por quais das centenas de acesso os bandidos entrariam. O único avanço foi o secretário admitir que sabia. Em 2006, o então subsecretário de Inteligência, coronel Romeu, alertou a Secretaria de Segurança, mas ninguém deu a mínima e ainda alegaram desconhecimento do aviso. Conclusão: cinco inocentes acabaram sendo mortos na invasão de traficantes em disputa pelos pontos de venda de drogas da favela da Rocinha. Curiosamente, é a facção dos bandidos da Rocinha que estaria por trás da nova movimentação na geopolítica do varejo do narcotráfico. Essa facção estaria patrocinando, com homens e armas, as invasões de favelas da Tijuca.
Dessa vez o fracasso da PM custou a vida de bravos combatentes, dois dos seis tripulantes do helicóptero Esquilo, do Grupamento Aero Marítimo (GAM), além de três pessoas que seus parentes garantem ser inocentes. Foram eliminados pelos traficantes, confundidos com bandidos rivais só porque eram quatro homens chegando num carro, às 2h30m da madrugada. Outros sete mortos seriam criminosos na disputa pelo negócio das drogas. A tragédia do helicóptero só não foi maior porque o piloto, Marcelo Vaz de Souza, conseguiu fazer um pouso forçado no campo da Vila Olímpica de Sampaio, salvando dezenas de casas da região. Esse, sim, é o herói da vez.
O pior de tudo é que a aeronave sequer estava atacando os bandidos. Sobrevovava o Morro São João, no Engenho Novo, para socorrer policiais feridos no confronto com os traficantes. Um policial especialista em mecânica de helicóptero me contou que a PM tem um padrão de voo desaconselhável para áreas de risco, como algumas favelas cariocas. Suas aeronaves ficam mais expostas porque voam alto e em velocidade menor do que a do padrão da Polícia Civil, que voa baixo e rapidamente. Os helicópteros da PM costumam sobrevoar as áreas para observação e não para combate, como ocorre com helicópteros da Polícia Civil.
- Nenhuma polícia do mundo usa aeronaves como plataforma de tiros. Só no Rio de Janeiro - afirmou agora à noite em entrevista à Globo News, Rodrigo Pimentel, capitão da reserva da PM e co-autor de "Elite da Tropa", o livro que inspirou o filme "Tropa de Elite".
Em algumas áreas da cidade, a polícia do Rio não entra sem apoio aéreo. Nessa escalada armamentista, a Secretaria de Segurança pagou R$ 7 milhões no caveirão aéreo - o helicóptero Huey II, da Polícia Civil. Faltou verba ou vontade política para comprar um desses para a PM. Numa operação na Favela da Coréia, em outubro de 2007, chamei de Safari Aéreo a operação da Polícia Civil na qual um atirador manda bala em bandidos em fuga.
O mais preocupante nesse episódio - além do clima de terror implantado pelo tráfico, que incendiou oito ônibus nas proximidades de favelas - é que o abate do helicóptero indica que os criminosos, com suas armas de guerra, colocaram em xeque a estratégia de combate que tem garantido a ocupação pela polícia, de territórios antes exclusivos do tráfico. Podem ter sido tiros nos escuro. Mas os criminosos acertaram em cheio a política de segurança do governo do estado. Venceram essa batalha, mas a polícia já prometeu que dará uma resposta à altura. É o mínimo que nós, cidadãos de bem, podemos esperar. Que a polícia aja dentro da lei, mas com a energia necessária para que esse tipo de ação criminosa jamais se repita.
Fotos de Fabiano Rocha e Pablo Jacob, Agência O GLOBO
Não adianta tentar tapar o sol com a peneira. Nesse grave momento, em que pela primeira vez os bandidos conseguiram derrubar um helicóptero da polícia, é preciso humildade por parte das autoridades de segurança pública para reconheceram que mais uma vez a polícia falhou. Apesar de a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil (Cinpol) ter interceptado telefonemas de bandidos, nos quais avisavam que iriam invadir o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, a Secretaria de Segurança, por meio da Polícia Militar, fracassou na tentativa de impedir o confronto entre os traficantes de facções rivais. Policiais do 6o Batalhão e do Batalhão de Choque estavam na região do conflito, mas não tiveram êxito no combate aos criminosos.
É lamentável que isso tenha ocorrido justamente quando a polícia tentou fazer algo para impedir a invasão - contrariando a postura que tem tido em outras guerras do tráfico, como a do Complexo da Maré, onde teriam morrido 50 pessoas. O caso já está repercutindo na mídia internacional que não poderia evitar referências ao fato de o Rio ter ganho as Olimpíadas de 2016, apesar de o quesito segurança ter passado raspando na sabatina feita pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O "New York Times" fez questão de lembrar que a nova onda de violência ocorreu a cerca de 10 quilômetros do Maracanã, um dos palcos dos Jogos Olímpicos e sede da final da Copa de 2014.
Visivelmente abatido, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admitiu em entrevista coletiva que o serviço de inteligência da PM - P-2 - soube na sexta-feira da ameaça de invasão ao Morro dos Macacos. Ele reconheceu, porém, que não foi possível saber por quais das centenas de acesso os bandidos entrariam. O único avanço foi o secretário admitir que sabia. Em 2006, o então subsecretário de Inteligência, coronel Romeu, alertou a Secretaria de Segurança, mas ninguém deu a mínima e ainda alegaram desconhecimento do aviso. Conclusão: cinco inocentes acabaram sendo mortos na invasão de traficantes em disputa pelos pontos de venda de drogas da favela da Rocinha. Curiosamente, é a facção dos bandidos da Rocinha que estaria por trás da nova movimentação na geopolítica do varejo do narcotráfico. Essa facção estaria patrocinando, com homens e armas, as invasões de favelas da Tijuca.
Dessa vez o fracasso da PM custou a vida de bravos combatentes, dois dos seis tripulantes do helicóptero Esquilo, do Grupamento Aero Marítimo (GAM), além de três pessoas que seus parentes garantem ser inocentes. Foram eliminados pelos traficantes, confundidos com bandidos rivais só porque eram quatro homens chegando num carro, às 2h30m da madrugada. Outros sete mortos seriam criminosos na disputa pelo negócio das drogas. A tragédia do helicóptero só não foi maior porque o piloto, Marcelo Vaz de Souza, conseguiu fazer um pouso forçado no campo da Vila Olímpica de Sampaio, salvando dezenas de casas da região. Esse, sim, é o herói da vez.
O pior de tudo é que a aeronave sequer estava atacando os bandidos. Sobrevovava o Morro São João, no Engenho Novo, para socorrer policiais feridos no confronto com os traficantes. Um policial especialista em mecânica de helicóptero me contou que a PM tem um padrão de voo desaconselhável para áreas de risco, como algumas favelas cariocas. Suas aeronaves ficam mais expostas porque voam alto e em velocidade menor do que a do padrão da Polícia Civil, que voa baixo e rapidamente. Os helicópteros da PM costumam sobrevoar as áreas para observação e não para combate, como ocorre com helicópteros da Polícia Civil.
- Nenhuma polícia do mundo usa aeronaves como plataforma de tiros. Só no Rio de Janeiro - afirmou agora à noite em entrevista à Globo News, Rodrigo Pimentel, capitão da reserva da PM e co-autor de "Elite da Tropa", o livro que inspirou o filme "Tropa de Elite".
Em algumas áreas da cidade, a polícia do Rio não entra sem apoio aéreo. Nessa escalada armamentista, a Secretaria de Segurança pagou R$ 7 milhões no caveirão aéreo - o helicóptero Huey II, da Polícia Civil. Faltou verba ou vontade política para comprar um desses para a PM. Numa operação na Favela da Coréia, em outubro de 2007, chamei de Safari Aéreo a operação da Polícia Civil na qual um atirador manda bala em bandidos em fuga.
O mais preocupante nesse episódio - além do clima de terror implantado pelo tráfico, que incendiou oito ônibus nas proximidades de favelas - é que o abate do helicóptero indica que os criminosos, com suas armas de guerra, colocaram em xeque a estratégia de combate que tem garantido a ocupação pela polícia, de territórios antes exclusivos do tráfico. Podem ter sido tiros nos escuro. Mas os criminosos acertaram em cheio a política de segurança do governo do estado. Venceram essa batalha, mas a polícia já prometeu que dará uma resposta à altura. É o mínimo que nós, cidadãos de bem, podemos esperar. Que a polícia aja dentro da lei, mas com a energia necessária para que esse tipo de ação criminosa jamais se repita.
Nuvens de fumaça de ônibus incendiados pelo tráfico, no Jacarezinho
Fotos de Fabiano Rocha e Pablo Jacob, Agência O GLOBO
Fotos de Fabiano Rocha e Pablo Jacob, Agência O GLOBO
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