domingo, 3 de janeiro de 2010

Mulher põe ordem em presídio com mais de 900 detentos em Caruaru

Nos sete anos em que Cirlene Rocha esteve à frente do presídio em Caruaru, não houve assassinatos, rebeliões ou incidentes graves.

Do Globo.com

Vaidosa, mulata, bonita e de fala mansa, decidida, jovem, corajosa, mãe, advogada, ex-agente penitenciária e diretora de um presídio.Cirlene Rocha manda e todos obedecem. Consegue manter mais de 900 homens na linha. Quem desobedecer a uma ordem dela, vai para solitária.

Até os inimigos declarados, presos de quadrilhas rivais, dormem na mesma cela e convivem sem violência dentro do presídio.




“Aqui na penitenciária Plácido de Souza eu não quero problema. Todos têm que ser amigos.Aqui não é ambiente de guerra, é ambiente de paz. Sempre tem um que matou a irmã do outro, ou um caso de um bandido que estuprou a mulher de outro. Todos os casos que você imaginar existem aqui na cadeia. Mas se um preso olhar de cara feia para o outro, é punição para os dois”, avisa Cirlene.

E a maior punição lá não é ficar isolado na solitária, é mudar de prisão. A penitenciária de Caruaru tem capacidade para 98 presos, mas atualmente está com uma superlotação de 921. Mesmo assim, nos últimos sete anos, não houve nenhuma rebelião por lá.

Nenhum assassinato, nem conflitos graves aconteceram nos sete anos em que Cirlene é a diretora da penitenciária. Ela anda livremente pelos corredores da prisão, entra nas celas, conversa com os presos sem nenhum tipo de segurança. Aliás, a polícia fica fora do presídio.

“Há uma conscientização do grupo de escolher se quer um ambiente de paz ou de guerra. E eles querem um ambiente de paz. Eles não são bestas de quererem um ambiente de guerra porque as famílias dos presos ficam muito angustiadas.Quando um bandido fica preso em Caruaru, a família fica mais tranqüila”, avisa Cirlene.

Tesouras, ferramentas e até navalhas são usadas no trabalho dos presos, mas nunca são aproveitadas como armas.

“Um preso fiscaliza o outro”, diz Cirlene.

O barbeiro Ronaldo Luciano deixa a navalha sobre a mesa, mas ela só é usada no corte de cabelo do preso.

“O meu interesse é aprender a minha profissão e poder ajudar a minha família”, explica.

As divergências são resolvidas nas mesas de sinuca ou nos jogos de dama. Na quadra, eles jogam futsal e praticam capoeira. Há uma equipe de professores de educação física e um convênio com a prefeitura que incentiva a prática de esportes.

Nas salas de aula, os presos são alfabetizados e aprendem o básico em educação. Alguns deles nunca tinham freqüentado uma escola.

Uma capela foi construída dentro da penitenciária onde são realizados cultos religiosos e ensaios do coral. A padaria produz 3,5 mil pães por dia para o consumo interno.

Cada espaço dentro da penitenciária, que tem uma área de um quarteirão na zona urbana de Caruaru, é aproveitada. Eles produzem lá 16 mil peças de roupa por mês. E os presos estão se especializando em artesanato. A arte do barro é uma tradição naquela região do Nordeste. As bonecas vão ser vendidas na feira de Caruaru.

A rádio Fênix é um sistema de rádio que é ouvido em todas as dependências do presídio. Tudo mantido pelos presos.

“Eles têm que ter responsabilidade. Eu falo isso para eles que ninguém tem nada de graça. Eles têm que conquistar com os próprios méritos. Quando eles chegam, são todos iguais. Não quero saber o que eles cometeram lá fora e nem a vida pregressa deles em outras unidades prisionais. Aqui começa do zero”, avisa Cirlene.

Falou a xerife do agreste, a mulher que mudou o conceito de mandar nos homens por mais perigosos que sejam.

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