domingo, 14 de fevereiro de 2010

Àreas de UPP não diminuem índices de criminalidade

Por Cecília Olliveira

O que os índices de criminalidade dizem não é exatamente o que se esperava da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs): no segundo semestre de 2009, em comparação com o mesmo período do ano anterior o número de assassinatos cresceu 50% na região administrativa de Botafogo e 42,1% na Cidade de Deus e Jacarepaguá. O dado é de pesquisa do movimento Rio Como Vamos baseada nos índices do Instituto de Segurança Pública (ISP).

O número de homicídios subiu pela primeira vez desde de 2005, quebrando um movimento de queda desde então e registrando 5.794 assassinatos, 77 a mais do que em 2008, representando um aumento de 1,3% no número absoluto do delito. Os dados mostram ainda aumento no número nos crimes de roubo de rua (88.495 casos em 2009, 2,2% a mais do que 2008), roubo a residência (1.662 casos, 11,3% a mais) e roubo a estabelecimento comercial (4.944 casos, 1% a mais).


O coronel José Vieira de Carvalho, comandante das UPPs, disse ao Jornal O Dia, que é difícil encontrar explicação para os dados. “Isso pode ser um aumento sazonal dos crimes. Ainda não há uma pesquisa que aponte os impactos diretos da criação das UPPs. Mas estamos trabalhando da melhor forma possível”, afirmou.

Mas não é tão difícil, como diz o coronel, achar alguns "porques" para tais índices. A iniciativa é tratada como uma bandeira política e não como uma política pública de pacificação de áreas vulneráveis a criminalidade e redução de danos.

Mais de uma vez Sérgio Cabral "avisou" que estava chegando com a UPP em determinado morro, dando a chance aos criminosos de migrar para outras áreas. O Estado tirou do domínio do tráfico o comando em algumas favelas, mas os serviços de saúde continuam lastimáveis, por exemplo. Fora os íncides de criminalidade, foram feitos levantamentos acerca de frequência escolar? Níveis de desemprego?

Também mais de uma vez o perfil oficial da UPP no Twitter frisou que as Unidades não pretendem estar em todas as favelas (o foco é na Zona Sul - coincidentemente reduto eleitoral de Gabeira -, com favelas menores e com ação bem menor do tráfico), e nem acabar com o tráfico de drogas, mas sim, acabar com os fuzis, como pode ser conferido abaixo.



Se o objetivo governamental fosse de fato reduzir os índices de criminalidade, reestabelescendo a cidadania dos moradores, as iniciativas seriam coordenadas, pensadas em conjunto com várias secretarias e jamais teriam o objetivo de atuar no varejo, seja de drogas, seja de armas, nem tampouco seriam ostentadas como bandeira política e menos ainda usariam dados diferentes do IBGE para estabelecer - leia-se maquiar - índices.

Como vários estudiosos de Segurança Pública vem relembrando, o projeto das UPPs é uma releitura do GPAE (Grupamento de Policiamento em Áreas Específicas), implantado em 2000 em algumas favelas cariocas, com o objetivo de encurtar a distância entre polícia e comunidade e o do medo que os cidadãos têm da polícia. A difenrença é que Cabral, atual governador fluminense, fez das UPPs sua bandeira eleitoral, embora os índices nem de longe demonstrem a eficácia da iniciativa.

Infeliz uso.

Confira os números levantados pela ONG Rio Como Vamos:

Um comentário:

  1. Confesso que não tenho conhecimento dos problemas do Rio de Janeiro, fora o que se passa pela TV. Mas a teoria que "não pretendemos acabar com o tráfico, apenas com os fuzís", me lembra um pouco Paulo Maluf quando dizia: "Tudo bem, estupra mas não mata".

    Pretendo utilizar alguns dados deste artigo em uma pequena matéria que devo publicar ainda nos próximos dias a respeito dos fechamentos das sub-sedes da GCM de Itu.

    www.comunidadesegura.blogspot.com

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