quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Recuperar é possível

Infração ficou para trás. O que era só um sistema de internato acabou se transformando em descoberta de grandes talentos

Ana Cristina Andrade - Da Gazeta de Piracicaba

Quando se fala em local de internação para menores infratores, a primeira imagem que vem à cabeça é de um pavilhão sombrio, com paredes pichadas, janelas quebradas, onde se ouvem apenas gritos de adolescentes rebeldes. Ao entrar na Fundação CASA de Piracicaba, vislumbra-se uma realidade muito diferente e altamente positiva.


Apesar de seguro, com grades até nos telhados das áreas externas, as condições do prédio revelam os cuidados do lugar. As paredes brancas não apresentam nenhuma sujeira. Os dormitórios, cada qual com o nome do adolescente que fica ali alojado, são arrumados pelos próprios 'moradores'. Dentro só permanecem os travesseiros, cobertores e duas fotografias da família de cada um.

Trata-se de um lugar onde a palavra-chave é disciplina: existe hora certa para acordar, estudar, almoçar, descansar, ter lazer e dormir. É ainda um local que esconde muitos talentos. Como o de um jovem de 18 anos, que se prepara para entrar na faculdade de Engenharia Mecânica.

O diretor da unidade, Flagas Rodrigues, e a assistente social Analis Mendes Furquim Ferro Caldeira, já providenciaram toda a documentação para garantir a inscrição do aluno. Na quinta-feira (16), quando a Gazeta esteve na unidade, o interno tinha feito uma prova do curso de Elétrica. A nota dele foi 10.

Ele disse que adora ler e está se preparando para o vestibular. "Os funcionários daqui estão me dando muito apoio. Qualquer adolescente tem chance de se recuperar, desde que saiba o que quer para a vida e tenha força de vontade", ressalta.

De acordo com Flagas Rodrigues, 90% dos internos da CASA tiveram envolvimento com roubo (1º lugar), seguido por tráfico de drogas. O restante envolveu-se com furto e outros crimes como homicídio, por exemplo.

Na quadra de esportes a Gazeta encontrou outro talento: um jovem de 18 anos que se destaca no futebol. Flagas Rodrigues, que diz procurar levantar a auto-estima dos internos, já marcou um teste para o menino num time profissional.

ATIVIDADES. Dentro da unidade os internos têm aulas de pintura, informática, cursos profissionalizantes de Salgadeiros e Elétrica, sendo os dois últimos realizados pelo Centro Paula Souza. Na unidade também há cinco menores que vão votar nas próximas eleições. Para isso, a urna será levada até a CASA.

Com os títulos em mãos, cada um fala de suas expectativas sobre os próximos governantes. "Tem que mudar a saúde", diz o adolescente de 17 anos. Apesar de não ser obrigado a votar, ele faz questão de declarar seu voto.

"A Educação vai bem, a saúde também. Espero que fique cada vez melhor", diz o outro, que tem 18 anos e dois filhos - 7 e 6 meses. "Espero que os adolescentes tenham mais oportunidades na vida, para não levarem a vida que levamos antes de entrarmos aqui", acrescentou o terceiro, com 18 anos.

Nenhum deles sabe quem são os candidatos, mas o diretor garante que deixará com que assistam à propaganda eleitoral pela TV antes das eleições. A CASA dá prioridade aos infratores da região e tem ainda menores que não foram sentenciados. "Aqui, com tantas atividades, inclusive culturais, tentamos mostrar a todos eles o que estão perdendo", completa Rodrigues.

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