Por Cecília Olliveira
Nestes últimos dias as máximas ditas pelo “herói” brasileiro, Capitão Nascimento, tem sido usadas – pela população e poder público - para justificar quaisquer ações do Estado na “guerra” contra tráfico. Usam desde “você, seu maconheiro, é que sustenta o tráfico. A culpa é sua” até o “senta o dedo nessa porra” (com o perdão da palavra).
Pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência mostra que 88% da população apoia as medidas que estão sendo tomadas contra o tráfico de drogas. Destes, 49% disseram aprovar totalmente as medidas contra o tráfico, outros 7% não aprovam e nem desaprovam, e 3% não concordam com as ações. Mil pessoas residentes no estado do Rio, todas com idade acima de 16 anos, foram entrevistadas entre 27 e 29 de novembro. A grande maioria das pessoas que participaram da pesquisa também disse estar confiante na capacidade da polícia reprimir a ação dos bandidos: 82% entendem que ela é capaz. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais.
Isso só me faz lamentar. E fico ainda com algumas perguntas sem resposta: - Quais medidas contra o tráfico de drogas? Tiros a esmo, numa ação não planejada pelo Estado e que foi nomeada pelos governantes como “resposta pra bandido”? Residentes em que área do RJ aprovam as ‘medidas contra tráfico’? Zona Sul? Aquelas armas brotaram do chão no Alemão e Vila Cruzeiro? Certamente na mesma horta em que floresceram as mais de 40 toneladas de drogas apreendidas.
Abstenhamo-nos das generalidades. Vamos aos fatos. As drogas sempre foram de livre comércio e usadas inclusive para efeitos medicinais e culturais. Só estão proibidas há cerca de 100 anos nos EUA (e a 90 aqui, no Brasil) com base numa política discriminatória e religiosa contra as minorias imigrantes e étnicas que estavam em crescimento no país. O uso de ópio pelos chineses, de maconha pelos mexicanos e de cocaína pelos negros foi demonizado por ser “uma ameaça à branca sociedade cristã norte-americana”, já que era esta a causa do ócio e da tendência à violência.
A “guerra contra as drogas”, nesta escala que conhecemos hoje foi deflagrada por Nixon em 1970 e exportada para todo o mundo (que engoliu o modelo sem pensar em sua realidade local). O combate ao problema apenas na base da repressão não funciona em nenhuma parte do mundo. Nações estão se abrindo para a discussão e adotando formas diferentes de enfrentar o problema, tais como a legalização, descriminalização de usuários e enquadramento do tema como problema como de saúde pública e não apenas de polícia.
Voltemos às perguntas: A culpa é de quem cheira ou só embarcamos num barco furado americano? O narcotráfico é uma empresa transnacional. Alguém acredita mesmo que a ação policial num cerco de alguns quilômetros na cidade do Rio de Janeiro vai mudar o mercado mundial? “Sentar o dedo nessa porra” mudou o quê até agora?
Ou se enfrenta o tráfico de drogas como um assunto multilateral e mundial, ou vive-se de tirar o sofá da sala e enxugar gelo. Só tenho visto ações pertinentes às duas últimas opções.
Cecília, boa noite
ResponderExcluirA alguns dias venho acompanhando o seu blog e gostei muito das suas postagens, mas gostaria de exprimir que nesta postagem em especial eu não concordo plenamente contigo. Primeiro vou comentar a parte onde concordo, que é o fato de uma ação isolada (muito grande, porém isolada)não vai acabar com o problema, e somente será usada por políticos oportunistas para ganhar medalha. Agora vamos a parte onde discordo: O povo do Brasil inteiro tem o "Coronel Nascimento" como um herói devido ao fato da ficção mostrar alguém de dentro do sistema disposto a lutar contra o próprio sistema. Em minha opinião pessoal, algo crucial para diminuir o problema de drogas, seria em primeiro lugar lutar contra a corrupção e após isso atacar a logística das drogas.
um forte Abraço
Marcelo Sousa
@marcelo_sousa29
Oi Marcelo. Muito obrigada pelos elogios e por acompanhar o Blog. Compreendo o que disse sobre o Capitão Nascimento. Na verdade critiquei especificamente o uso dos bordões dele, que estão sendo usadas para justificar o ponto a que chegamos nesta 'guerra' e o tratamento dado aos criminosos, completamente fora do proposto em nossa legislação. Mas de fato, o posicionamento não corruptivel do Capitão, merece admiração!
ResponderExcluirabs
Cecilia você arrasa mulher. Se todos tivessem essa lucidez do problemas talvez conseguimos ir para o caminho correto a combater este problrma. Abraço Gustavo/BH
ResponderExcluirSou seu fã!!
ResponderExcluirCecília, sou seu fã!!
ResponderExcluirOlá Cecília, acho que o texto foi muito bom, porém o título desqualifica e descaracteriza o conteúdo. Dizer que essa geração é vazia, não combina com as lutas pela PEC 300, com a participação dos órgãos de segurança na 1ªCONSEG-Conferência Nacional de Segurança e todo o esforço empreendido pelos militares do Rio para minimizar a violência no Complexo do Alemão. Temos que ter políticos mais corajosos, mais sensíveis as demandas sociais, e não coniventes como na era Brizola...Cabral deu o primeiro e importante passo...mas, se não levar os outros "braços" do estado, tais como saúde, educação, lazer, cultura...voltaremos a falar disso tudo num futuro próximo. Um abraço e visite o meu blog: NO Q A P
ResponderExcluirAnastacio
Oi Anastácio. Eu acompanho sempre o No QAP!
ResponderExcluirNa verdade, me referi a geração que vem repetindo os motes do Capitão Nascimento, sem refetir sobre as frases. Não me refiro a pessoa do Capitão, pelo contrário, sua incorruptibilidade deveria ser regra. Nesse caso, a PEC 300 coroaria o policial idôneo.
Abs