terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estado negociou com PCC, acusa o filme "Salve Geral"


Mauricio Stycer, repórter especial do iG

Com estreia nacional programada para
o dia 2 de outubro, “Salve Geral”, de Sergio Rezende, promete recolocar em discussão, de forma acalorada, os graves incidentes ocorridos em São Paulo, em maio de 2006. Ao longo de três dias, criminosos atacaram postos policiais na cidade, causando dezenas de mortes e espalhando pânico, enquanto rebeliões tiveram início em dezenas de presídios.

Divulgação
Andrea Beltrão em cena de "Salve Geral", que retrata o "dia em que São Paulo parou"

Ação orquestrada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) em resposta à remoção repentina de cerca de 800 presos da liderança do movimento para a penitenciária de segurança máxima Presidente Venceslau, os ataques de maio de 2006 causaram a morte de 46 agentes públicos, entre policiais civis, militares e agentes penitenciários.

Na recriação ficcional do “dia em que São
Paulo parou”, uma atenção especial é dada à negociação, sempre negada pelo governo do Estado de São Paulo, que teria ocorrido entre integrantes da cúpula da Segurança e os líderes do PCC.

No filme, há duas posições divergentes sobre como enfrentar o PCC: de um lado, o diretor de um presídio, que é contra negociar com os presos; e de outro, um policial civil, que apoia a negociação, mas defende um endurecimento da resposta policial nas ruas. O superior destes dois homens manifesta preocupação com a repercussão dos ataques “em ano de eleição” e termina por concordar com a tese do policial.

Os três homens, então, rumam para o presídio de segurança máxima onde estão detidos os líderes do PCC – no filme sempre chamado de “Partido”. Os presos apresentam por escrito às autoridades as suas reivindicações para encerrar a rebelião nas ruas de São Paulo, e os representantes do governo dão a entender que concordam com elas.

DivulgaçãoAtaques em maio de 2006 causaram a morte de 46 agentes públicos em São Paulo

A mais alta autoridade do governo na negociação exige que os ataques cessem “em uma hora”. Os líderes do PCC falam da dificuldade em contatar “200 mil pessoas” em uma hora, a não ser que tenham uma cadeia nacional de rádio e tevê à disposição. Na cena seguinte, os quatro presos são vistos numa sala, cada um falando a um telefone celular diferente, pedindo o fim da rebelião.

Numa cena posterior, o policial civil que defende a negociação com os presos e o endurecimento da ação policial nas ruas é visto em uma ronda com um colega na periferia. Ao se aproximarem de dois jovens, que fogem, ele atira e mata os dois. Diante do espanto do colega, ele afirma algo como: se fugiram é porque eram criminosos.

Segundo “O Estado de S.Paulo”, entre os dias 12 e 20 de maio de 2006, na sequência dos ataques do PCC, 493 pessoas foram mortas por armas de fogo; 109 eram criminosos ou suspeitos que a polícia afirma terem reagido à prisão; 89 foram mortos por pessoas não identificadas, com indícios de execução.


“Salve Geral” também mostra a corrupção dentro dos presídios, com agentes que facilitam a entrada de celulares para os presos em troca de benefícios. E, igualmente, descreve uma situação de corrupção que envolve um policial militar e agentes de saúdes, todos cúmplices no relaxamento da prisão de um criminoso.

Por outro lado, “Salve Geral” descreve o PCC com tintas igualmente fortes. Os líderes da organização criminosa são violentos, não hesitam em determinar a execução de integrantes do grupo e tramam uns contra os outros. O filme mostra uma série de atos de execução sumária cometidos por ordens da liderança.


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À esquerda, a atriz Denise Weinberg, a "Ruiva", advogada do PCC no longa-metragem

O filme de Sergio Rezende também aborda o trabalho assistencialista do PCC, assim como a participação de mulheres no comando da organização. Uma advogada, chamada em “Salve Geral” de “Ruiva”, é uma das principais articuladoras das ações do grupo.

Na época dos ataques, o ex-vice-governador Claudio Lembo havia acabado de assumir o governo do Estado, em substituição a Geraldo Alckmin, que deixou o cargo para disputar as eleições presidenciais no final de 2006. O secretário de Segurança era o procurador de Justiça Saulo de Castro Abreu e o secretário da Administração Penitenciária era o juiz aposentado Nagashi Furukawa.

No período imediatamente posterior aos ataques, Abreu e Furukawa, que pediu demissão dias depois da crise, trocaram acusações sobre a conduta de ambos nos episódios. Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, na ocasião, Castro comentou o pedido de demissão de Furukawa em termos duros: “Saiu porque não aguentou o tranco. Viu o monstrengo que criou no sistema prisional. Despirocou”. Furukawa respondeu dois depois, no mesmo jornal, afirmando: “Toda cúpula da Secretaria da Segurança queria que fizesse acordo (com o PCC). Não aceitei”.

A estréia de “Salve Geral” em 2 de outubro coincide com dois acontecimentos dramáticos. No próximo dia 1º tem início em São Paulo o julgamento de Marco Herbas Camacho, o Marcola, e Júlio César de Moraes, o Julinho Carambola, apontados como os principais líderes do PCC. Eles serão julgados como mandantes do assassinato do juiz-corregedor de presídios de Presidente Prudente, Antônio José Machado Dias, ocorrido em março de 2003.

O dia 2 de outubro marca também a data do chamado “massacre do Carandiru”, ocorrido em 1992. Na ocasião, em resposta a uma rebelião de presos, a Policial Militar invadiu o presídio, causando a morte de 111 detentos.

Assista ao trailer de "Salve Geral":


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