Da Agência Minas
Biblioteca, horta, oficina de conserto de bicicletas, salão de beleza, oficina mecânica e escola. Tais espaços estão à disposição dos presos que cumprem pena no Presídio de Curvelo, na região central de Minas. Coordenada pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a unidade acolhe cerca de 150 detentos, que têm oportunidades de estudo, trabalho, atividades artesanais e orientação espiritual no local.
Seguindo o modelo já implantado demais unidades prisionais do sistema, os presos também têm assistência médica, odontológica, social, jurídica e psicológica. O detento Eurípedes Moreira Costa, de 26 anos, revela como é o serviço na oficina de bicicletas. “Eu e mais cinco colegas trabalhamos aqui. Eu sou uma espécie de professor para eles, porque aprendi sozinho, ainda criança, o serviço. Lixo, pinto, monto, desmonto. É muito bom ensinar para quem quer aprender”, alega.
Ele explica que as bicicletas ou peças vêm das apreensões feitas pela Delegacia Regional de Curvelo. Após recuperadas, as bicicletas serão doadas para serem reaproveitadas em projetos sociais com jovens. No mesmo galpão das bicicletas, encontram-se ainda o maquinário de uma oficina mecânica. O material consiste em um elevador hidráulico, uma “girafa” (máquina para retirar motores de carros) e quatro caixas de ferramentas, viabilizadas pela Superintendência de Atendimento ao Preso (Sape) da Suapi.
Horta
Em breve, uma área do presídio receberá telhas e abrigará a oficina. Antônio Geraldo Lopes Rodrigues, conhecido como Nenzinho, de 49 anos, é o detento que coordenará o espaço: “Já trabalhei com mecânica e sei manusear bem essas ferramentas. Logo sairei da prisão, mas pretendo voltar para auxiliar o pessoal nesse serviço. Também promovo aqui um estudo bíblico em 15 lições, que tem até certificado. É importante continuar meu trabalho de evangelização”, declara.
A horta do presídio também está sob a responsabilidade de Nenzinho, que divide a função com um colega detento. Nenzinho fala com orgulho dos produtos cultivados. “Tem alface, tomate, couve, quiabo, cebolinha, salsinha, milho, banana, um pequeno pomar e um viveiro de mudas. A produção é vendida para a freguesia e para o nosso consumo”, destaca.
Quando o assunto é artesanato, é possível encontrar na unidade trabalhos artísticos de muita criatividade, que utilizam diferentes materiais, inclusive os recicláveis. São aviõezinhos e árvores feitas com alumínio de marmitex, casinhas montadas com palitos de picolé, patos em dobradura e bonecas de crochê, tudo confeccionado pelos detentos.
A reinserção dos internos no mercado de trabalho formal ou como autônomos, visando o momento em que recuperarem a liberdade, também é prioridade no Presídio de Curvelo. Há seis deles trabalhando na reforma de celas, muro, parte elétrica e hidráulica, em convênio com a Construtora Eficiência. Um salão de beleza dá oportunidade para 12 detentas, que utilizam o espaço de uma sala para serviços de manicure e de cabeleireira, fazendo escova, prancha e tintura de cabelos.
Empregos
A empresa Orthovida emprega dois presos na fabricação de colchões e travesseiros. Também há o aproveitamento de mão de obra local pela Copasa, em trabalhos de perfuração (quatro detentos), pela Construtora Engef (cinco detentos), na Associação de Catadores de Lixo para Reciclagem (dois detentos), e pelo Grupo Plantar, no replantio e viveiro de mudas (oito detentos).
Há ainda parcerias com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), também para fazer viveiro de mudas silvestres, nativas e ornamentais, além da Companhia de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar (CIA MAT), que absorve detentos para a reforma do espaço de uma escola antiga, onde futuramente funcionará a nova sede da companhia.
Ressocialização
O diretor-geral da unidade, Givanildo de Jesus Rosa, conta que aprendeu a acreditar no ser humano e por isso aposta na filosofia da ressocialização. “Seja onde eu for, esta será sempre a minha bandeira. Vejo pessoas mudando verdadeiramente. O maior valor social que eu carrego é o respeito pelas pessoas, estando presas ou não”, relata.
A diretora de Atendimento e Ressocialização ao Preso, Roberta Fernandes Santos, conta que tem um bom retorno por parte dos detentos. “Nosso trabalho tem dado resultados positivos. Muitos dos presos demonstram agradecimento sincero, anseiam por uma nova vida e desejam resgatar os vínculos perdidos. A sociedade deve ter consciência de que estamos preparando esses homens e mulheres pra que eles possam voltar ao convívio da sociedade”, reforça.
Para o diretor-adjunto João Faria de Batista Júnior, o principal ponto do processo de ressocialização é o estabelecimento de laços de respeito. “Quando vejo que um preso quer mudar, me torno companheiro fiel dessa mudança”, garante.
Superação
O depoimento do detento Eustáquio Ribeiro da Silva consiste em um exemplo claro de superação. “Estou preso, mas me considero liberto. Estou livre das drogas, das bebidas e do crime. Para esse caminho eu não volto mais”. Ele alega que hoje tem um olhar diferenciado da vida. E conta que a mudança começou no momento em que entrou para a escola do Presídio de Curvelo, que tem 63 alunos frequentando a modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA).
A vice-diretora e professora de alfabetização, Priscila Fulgêncio Gonçalves, destaca a evolução que a escola provocou no comportamento de Eustáquio. “Quando ele chegou aqui, sempre dizia que não tinha conserto, eu não iria aprender”. Agora ele é muito participativo e demonstra preferência pelo português e interpretação de textos. A melhoria é nítida. Seu esforço é grande e o amor pelo aprendizado também. Não tem como não se apegar a uma pessoa como essa, com tanta vontade de ser alguém melhor”, diz, emocionada.
Priscila Fulgêncio relata que a participação de Eustáquio na XV Semana da Poesia Viva organizado pela Faculdade de Ciências Humanas (Facic), quando ele concorreu com todas as escolas públicas e particulares de Curvelo, num total de mais de 1600 alunos, foi marcante. “Quando soube do concurso, logo manifestou seu interesse em participar. O tema escolhido foi a questão dos valores pessoais. Eustáquio fez o texto sozinho, sem correções, dentro da cela. No poema, ele fala sobre os erros que cometeu e de seu arrependimento.”
Vitória
A conquista do prêmio especial, com direito a R$ 200, um MP4, troféu, placa para o presídio, cesta de chocolate e um curso completo de informática, ainda é motivo de comemoração para Eustáquio. “Fiz a minha poesia, mas nunca pensei que fosse ganhar. Foi o dia mais feliz da minha vida. Fui aplaudido de pé e abraçado por muita gente. Descobri naquela hora que, apesar de estar preso, eu não sou bandido”, lembra.
A premiação teve desmembramentos e Eustáquio recebeu o convite para fazer um curso superior na Facic, totalmente gratuito, podendo escolher aquele que mais lhe agrada. “Apesar de eu estar fazendo o antigo curso primário, o pessoal da faculdade me garantiu que a bolsa vai me esperar, não importa o quanto eu demore em chegar lá”, comemora.
A superintendente Regional de Ensino de Curvelo, Dilcéia Dayrell, convidou o detento a escrever um livro de poesias, que já se encontra finalizado e deve ser lançado no começo de 2010. “Fiquei tão empolgado que escrevi 179 poesias em um mês. Sessenta e nove foram selecionadas para integrar o livro”, explica o detento.
Se perguntado sobre o que sente em relação a tantos acontecimentos, Eustáquio resume que é um vitorioso. “Tenho hanseníase e trabalhava em uma carvoeira, quando notei o aparecimento de uma mancha no corpo. Depois fui perdendo a sensibilidade e quando recebi o diagnóstico, já era tarde e tive que amputar meu pé direito. Meu pé esquerdo também está comprometido. Em breve receberei próteses, doadas por uma faculdade de fisioterapia. Apesar das dificuldades que passei e que tenho passado, veja quantas coisas boas eu consegui!”.
Ele finaliza dizendo que a esperança é o que sempre o impulsiona a continuar lutando. “Além de tudo isso que conquistei, tenho a sorte de ter um grande amor, que é a minha Romilda. A gente está junto há treze anos e ela tem um filho que considero meu. Vamos ficar noivos e casar aqui dentro do presídio”, planeja.
Biblioteca, horta, oficina de conserto de bicicletas, salão de beleza, oficina mecânica e escola. Tais espaços estão à disposição dos presos que cumprem pena no Presídio de Curvelo, na região central de Minas. Coordenada pela Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), a unidade acolhe cerca de 150 detentos, que têm oportunidades de estudo, trabalho, atividades artesanais e orientação espiritual no local.
Seguindo o modelo já implantado demais unidades prisionais do sistema, os presos também têm assistência médica, odontológica, social, jurídica e psicológica. O detento Eurípedes Moreira Costa, de 26 anos, revela como é o serviço na oficina de bicicletas. “Eu e mais cinco colegas trabalhamos aqui. Eu sou uma espécie de professor para eles, porque aprendi sozinho, ainda criança, o serviço. Lixo, pinto, monto, desmonto. É muito bom ensinar para quem quer aprender”, alega.
Ele explica que as bicicletas ou peças vêm das apreensões feitas pela Delegacia Regional de Curvelo. Após recuperadas, as bicicletas serão doadas para serem reaproveitadas em projetos sociais com jovens. No mesmo galpão das bicicletas, encontram-se ainda o maquinário de uma oficina mecânica. O material consiste em um elevador hidráulico, uma “girafa” (máquina para retirar motores de carros) e quatro caixas de ferramentas, viabilizadas pela Superintendência de Atendimento ao Preso (Sape) da Suapi.
Horta
Em breve, uma área do presídio receberá telhas e abrigará a oficina. Antônio Geraldo Lopes Rodrigues, conhecido como Nenzinho, de 49 anos, é o detento que coordenará o espaço: “Já trabalhei com mecânica e sei manusear bem essas ferramentas. Logo sairei da prisão, mas pretendo voltar para auxiliar o pessoal nesse serviço. Também promovo aqui um estudo bíblico em 15 lições, que tem até certificado. É importante continuar meu trabalho de evangelização”, declara.
A horta do presídio também está sob a responsabilidade de Nenzinho, que divide a função com um colega detento. Nenzinho fala com orgulho dos produtos cultivados. “Tem alface, tomate, couve, quiabo, cebolinha, salsinha, milho, banana, um pequeno pomar e um viveiro de mudas. A produção é vendida para a freguesia e para o nosso consumo”, destaca.
Quando o assunto é artesanato, é possível encontrar na unidade trabalhos artísticos de muita criatividade, que utilizam diferentes materiais, inclusive os recicláveis. São aviõezinhos e árvores feitas com alumínio de marmitex, casinhas montadas com palitos de picolé, patos em dobradura e bonecas de crochê, tudo confeccionado pelos detentos.
A reinserção dos internos no mercado de trabalho formal ou como autônomos, visando o momento em que recuperarem a liberdade, também é prioridade no Presídio de Curvelo. Há seis deles trabalhando na reforma de celas, muro, parte elétrica e hidráulica, em convênio com a Construtora Eficiência. Um salão de beleza dá oportunidade para 12 detentas, que utilizam o espaço de uma sala para serviços de manicure e de cabeleireira, fazendo escova, prancha e tintura de cabelos.
Empregos
A empresa Orthovida emprega dois presos na fabricação de colchões e travesseiros. Também há o aproveitamento de mão de obra local pela Copasa, em trabalhos de perfuração (quatro detentos), pela Construtora Engef (cinco detentos), na Associação de Catadores de Lixo para Reciclagem (dois detentos), e pelo Grupo Plantar, no replantio e viveiro de mudas (oito detentos).
Há ainda parcerias com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), também para fazer viveiro de mudas silvestres, nativas e ornamentais, além da Companhia de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar (CIA MAT), que absorve detentos para a reforma do espaço de uma escola antiga, onde futuramente funcionará a nova sede da companhia.
Ressocialização
O diretor-geral da unidade, Givanildo de Jesus Rosa, conta que aprendeu a acreditar no ser humano e por isso aposta na filosofia da ressocialização. “Seja onde eu for, esta será sempre a minha bandeira. Vejo pessoas mudando verdadeiramente. O maior valor social que eu carrego é o respeito pelas pessoas, estando presas ou não”, relata.
A diretora de Atendimento e Ressocialização ao Preso, Roberta Fernandes Santos, conta que tem um bom retorno por parte dos detentos. “Nosso trabalho tem dado resultados positivos. Muitos dos presos demonstram agradecimento sincero, anseiam por uma nova vida e desejam resgatar os vínculos perdidos. A sociedade deve ter consciência de que estamos preparando esses homens e mulheres pra que eles possam voltar ao convívio da sociedade”, reforça.
Para o diretor-adjunto João Faria de Batista Júnior, o principal ponto do processo de ressocialização é o estabelecimento de laços de respeito. “Quando vejo que um preso quer mudar, me torno companheiro fiel dessa mudança”, garante.
Superação
O depoimento do detento Eustáquio Ribeiro da Silva consiste em um exemplo claro de superação. “Estou preso, mas me considero liberto. Estou livre das drogas, das bebidas e do crime. Para esse caminho eu não volto mais”. Ele alega que hoje tem um olhar diferenciado da vida. E conta que a mudança começou no momento em que entrou para a escola do Presídio de Curvelo, que tem 63 alunos frequentando a modalidade Educação para Jovens e Adultos (EJA).
A vice-diretora e professora de alfabetização, Priscila Fulgêncio Gonçalves, destaca a evolução que a escola provocou no comportamento de Eustáquio. “Quando ele chegou aqui, sempre dizia que não tinha conserto, eu não iria aprender”. Agora ele é muito participativo e demonstra preferência pelo português e interpretação de textos. A melhoria é nítida. Seu esforço é grande e o amor pelo aprendizado também. Não tem como não se apegar a uma pessoa como essa, com tanta vontade de ser alguém melhor”, diz, emocionada.
Priscila Fulgêncio relata que a participação de Eustáquio na XV Semana da Poesia Viva organizado pela Faculdade de Ciências Humanas (Facic), quando ele concorreu com todas as escolas públicas e particulares de Curvelo, num total de mais de 1600 alunos, foi marcante. “Quando soube do concurso, logo manifestou seu interesse em participar. O tema escolhido foi a questão dos valores pessoais. Eustáquio fez o texto sozinho, sem correções, dentro da cela. No poema, ele fala sobre os erros que cometeu e de seu arrependimento.”
Vitória
A conquista do prêmio especial, com direito a R$ 200, um MP4, troféu, placa para o presídio, cesta de chocolate e um curso completo de informática, ainda é motivo de comemoração para Eustáquio. “Fiz a minha poesia, mas nunca pensei que fosse ganhar. Foi o dia mais feliz da minha vida. Fui aplaudido de pé e abraçado por muita gente. Descobri naquela hora que, apesar de estar preso, eu não sou bandido”, lembra.
A premiação teve desmembramentos e Eustáquio recebeu o convite para fazer um curso superior na Facic, totalmente gratuito, podendo escolher aquele que mais lhe agrada. “Apesar de eu estar fazendo o antigo curso primário, o pessoal da faculdade me garantiu que a bolsa vai me esperar, não importa o quanto eu demore em chegar lá”, comemora.
A superintendente Regional de Ensino de Curvelo, Dilcéia Dayrell, convidou o detento a escrever um livro de poesias, que já se encontra finalizado e deve ser lançado no começo de 2010. “Fiquei tão empolgado que escrevi 179 poesias em um mês. Sessenta e nove foram selecionadas para integrar o livro”, explica o detento.
Se perguntado sobre o que sente em relação a tantos acontecimentos, Eustáquio resume que é um vitorioso. “Tenho hanseníase e trabalhava em uma carvoeira, quando notei o aparecimento de uma mancha no corpo. Depois fui perdendo a sensibilidade e quando recebi o diagnóstico, já era tarde e tive que amputar meu pé direito. Meu pé esquerdo também está comprometido. Em breve receberei próteses, doadas por uma faculdade de fisioterapia. Apesar das dificuldades que passei e que tenho passado, veja quantas coisas boas eu consegui!”.
Ele finaliza dizendo que a esperança é o que sempre o impulsiona a continuar lutando. “Além de tudo isso que conquistei, tenho a sorte de ter um grande amor, que é a minha Romilda. A gente está junto há treze anos e ela tem um filho que considero meu. Vamos ficar noivos e casar aqui dentro do presídio”, planeja.
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