quarta-feira, 17 de março de 2010

Juventude encarcerada: Conhecendo alguns dos 7 mil presos do Rio com idades de 18 a 24 anos

Por William Helal Filho - do O Globo

Foto: Gustavo Stephan
'Quando morre um amigo (traficante) lá fora, a gente faz silêncio às 18h. O luto dura até 24 horas, se for alguém importante'

A porta de ferro se fecha fazendo barulho atrás da gente, e o MC Canequinha, de 20 anos, chega ao pátio externo da cadeia olhando para o céu. Ele se senta num banco para dar entrevista, mas, de tempos em tempos, levanta a cabeça de novo, até deixar o repórter curioso.

- Desculpa. É que não vejo o céu há dois meses, desde que vim parar aqui. Olha só como estou desbotado - explica ele, mostrando os braços.

" Não vejo o céu há dois meses "

O MC "foi parar" na carceragem da Polícia Civil em Neves, São Gonçalo, porque roubou uma moto a mão armada. Tentou fugir, mas acabou preso. Agora, está à espera do julgamento. E virou estatística.

É assustador o número de presidiários com idades próximas à de Canequinha (nome fictício) nas nossas cadeias. Segundo a Secretaria estadual de Administração Penitenciária, dos cerca de 24 mil detentos no Estado do Rio, 7.184 (quase 30%) têm idades de 18 a 24 anos - sendo que 4.356 deles não terminaram nem o ensino fundamental. No Brasil todo, estatísticas de 2009 do Ministério da Justiça mostram que a quantidade de detentos nessa faixa etária passa dos 127 mil (31% do total de 409 mil presidiários). Se levarmos em conta os presos de 18 a 29 anos, esse número sobe para 233 mil - 57% de toda a população carcerária.

Mas na cadeia não tem jovem ou velho, negro ou branco. Todo mundo é dividido por facções criminosas. Se misturar, dá até morte. Lá dentro, eles obedecem as regras dos presídios, mas também vivem sob o código do crime.

Além de conhecer a carceragem de Neves, com cerca de 700 presos amontoados em celas escuras e insalubres, nossa equipe foi à Penitenciária Moniz Sodré, no Complexo de Bangu, onde 1.550 detentos (da mesma facção) ocupam 22 celas (60 por cela). A maioria são jovens com penas de até dez anos. Mas, mesmo numa unidade considerada "modelo" - com 500 alunos na escola interna, nove igrejas, fábrica de pipas e até torneios esportivos -, vigoram leis do tráfico.




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