Marinella Castro e Zulmira Furbino - do Correio Braziliense
B. B. F., 35 anos, atua há 15 anos no mesmo ramo. Apesar dos altos e baixos do mercado, ele sempre se manteve fiel à venda do mesmo produto. Do dia 1º ao dia 10 de cada mês, ganha R$ 15 mil. Nos 20 dias que restam, garante cerca de R$ 20 mil. Por ano, seu faturamento chega a R$ 420 mil. O lucro líquido obtido com o negócio atinge 80%. B. é o último elo entre o atacado e o varejo de uma indústria que fatura por ano R$ 1,4 bilhão no Brasil e US$ 320 bilhões no mundo: o tráfico de drogas.
No mercado interno, a venda de cocaína, maconha, crack, ecstasy e heroína movimenta o suficiente para comprar 13 bancos Mercantil do Brasil, 19 fábricas de brinquedo Tectoy ou 13 refinarias de petróleo Manguinhos, tomando como referência o valor de mercado dessas empresas no fim do ano passado. Já a movimentação financeira do tráfico no mundo equivale a três vezes o faturamento de 2009 da Petrobras e bate a soma das receitas brutas da estatal do petróleo, do Itaú, do Banco do Brasil, do Bradesco e da Vale no mesmo período.
Os números relativos ao faturamento no mercado interno foram estimados pela reportagem a partir do cruzamento de dados constantes no último relatório mundial do escritório da Organização das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (Undoc).
O tráfico de drogas envolve uma complexa cadeia econômica que começa com a produção na América do Sul, em países como Bolívia, Colômbia e Paraguai. O Brasil é uma importante rota que permite, principalmente, o abastecimento do mercado europeu. Como em qualquer outra área, a lógica do negócio é a mesma que rege a economia de mercado. "No combate ao tráfico de drogas, é preciso um olhar racional. Os usuários são consumidores que querem um produto (a droga) e que não deixarão de comprá-lo. A novidade é encarar o mercado de produtos ilegais como uma atividade econômica e, então, buscar maneiras para que o Estado possa intervir de forma efetiva nesse mercado", diz Cláudio Chaves Beato Filho, coordenador-geral do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Se é assustador saber que as vendas de drogas no país garantem rendimentos que ultrapassam a casa do bilhão de reais, comparar o seu valor de mercado com a cotação internacional das principais commodities exportadas pelo Brasil pode dar uma ideia do peso do tráfico na economia mundial. Mesmo levando em conta que o grama de cocaína custa hoje três vezes menos que há 10 anos, a lucratividade do produto no atacado é praticamente imbatível. E o mesmo acontece com outras drogas. Enquanto uma tonelada de bobina a quente, o principal produto da indústria siderúrgica mundial, é vendida no mercado internacional por US$ 750, no atacado, a tonelada de cocaína custa US$ 3 milhões.
Commodities agrícolas
Os preços de produtos como o crack, a maconha, o ecstasy e a heroína também deixam para trás as principais commodities agrícolas. A saca de 60 quilos de café vale US$ 177, enquanto um só quilo de maconha custa US$ 150 na cotação internacional. "O tráfico de drogas é um negócio muito lucrativo e vem daí a dificuldade de combatê-lo. Um quilo de pasta de cocaína é comprado por US$ 5 mil do produtor, mas o produto final é vendido aos consumidores na Europa por US$ 30 mil o quilo", diz José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública e diretor do Instituto Pró-Polícia de São Paulo.
Rota internacional
Saiba como operam os elos da cadeia do tráfico na América do Sul e no Brasil:
# A produção geralmente ocorre na Bolívia, na Colômbia e no Paraguai
# Grandes distribuidores são responsáveis por levar os produtos em segurança até o Brasil, onde terão destino final, passando por redes nacionais e regionais
# A droga chega aos distribuidores locais que revendem o produto no varejo
# O distribuidor local tem sua rede nas chamadas bocas de venda de drogas em vilas e favelas
# Nas vilas e favelas, vende-se o produto em gramas, pedras, comprimidos ou papelotes. Ali, o tráfico perde a sua conotação de crime organizado. O lucro cai e a criminalidade cresce
Fonte: Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG
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