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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Polícia de proximidade: sem informações, polícia age num tunel escuro


Por Marcos Rolim

O recurso mais importante para qualquer polícia do mundo é a informação. Uma polícia sem informações não sabe o que fazer e age como se estivesse em um túnel escuro.

A mais ampla e importante fonte de informação para o trabalho policial é o povo. Mas a população só informa a polícia se confiar nela. Por isso, aumentar a confiança nas polícias é um desafio central, especialmente quando a imagem das instituições for ruim e estiver associada à ineficiência, à corrupção e à violência. O atendimento prestado à cidadania, a educação dos policiais e os êxitos alcançados pelas polícias ajudam muito, mas confiança exige proximidade dos policiais com as pessoas.

Nosso modelo de polícia está fundado em uma concepção reativa onde os policiais patrulham aleatoriamente as cidades, dentro de viaturas, atendendo aos chamados de emergência do sistema 190. Os residentes não conhecem os policiais que, por sua vez, tampouco conhecem os moradores. Na ausência de vínculos, o que temos é uma “polícia estranha” às comunidades e que aparece, como regra, apenas depois que um crime já foi cometido.

A ideia de fixar policiais em pequenos distritos, para o patrulhamento fora de viaturas, normalmente a pé, em contato direto com as pessoas, é o começo de uma mudança essencial em direção ao modelo de polícia comunitária. Nos países de democracia consolidada, esta tem sido uma das mais fortes tendências no policiamento nos últimos 30 anos. Com o policiamento de proximidade, os profissionais de segurança passam a conhecer os residentes por seus nomes, passam a entender as dinâmicas sociais da região, têm mais condições de auxiliar as pessoas em variados momentos de dificuldade (não apenas em ocorrências criminais) e podem construir laços de confiança que lhes permitirão receber as informações que precisam.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro têm obtido êxitos porque realizam esta dinâmica. Quem tomar este exemplo como suficiente, entretanto, poderá se frustrar. A cidade do RJ possui 1.500 favelas. Há UPPs em 12 delas. Se o governo conseguir instalar uma nova UPP por mês, em 100 anos a cidade não estará coberta. Será preciso, então, reduzir rapidamente as áreas de exclusão social e promover cidadania. Mas o problema maior nem é esse. O problema é que nada nos garante que os policiais recrutados para as UPPs não estarão em breve associados ao crime.

Para evitar este resultado será preciso – além de salários dignos e exigências maiores de recrutamento e formação - a reforma do modelo de polícia, introduzindo o ciclo completo de policiamento e a divisão de responsabilidades entre as policias por tipos criminais, assegurando uma única porta de entrada em cada polícia e, por decorrência, a possibilidade de uma verdadeira carreira policial, etc., o que exige a alteração do art. 144 da Constituição Federal e disposição para mexer em um vespeiro de interesses corporativos e de disputas de poder.

Bem, podemos não fazer isso, por conveniência política ou falta de discernimento. Nesta hipótese, o pesadelo das milícias e da degradação completa da atividade policial surgirá cada vez mais forte no horizonte.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dados da violência


Por Talitha Ferraz do Observatório de Favelas

Dados referentes a uma comparação entre os trimestres de julho a setembro deste ano e do ano passado, divulgados na semana passada no site do Instituto de Segurança Pública (ISP), mostram uma queda de 25% no número de latrocínios no estado do Rio de Janeiro, com 16 vítimas a menos. Os indicadores demonstram também um leve arrefecimento nos homicídios dolosos, que, segundo o compilado, diminuíram em 1,3%, no estado. O panorama aponta ainda que decaíram as ocorrências de mortes durante serviço entre os policiais civis e militares, já que foram registrados quatro casos de letalidade de policiais contra sete mortes ocorridas no mesmo trimestre relativo a 2008. Neste levantamento, algumas outras incidências criminais e administrativas da segurança do estado do Rio de Janeiro apresentaram aumentos percentuais consideráveis, como aconteceu com os autos de resistência, que aumentaram de 154 para 244 casos, segundo a divulgação do ISP. Apenas no mês de setembro deste ano morreram, por circunstância dos autos de resistência, 20 pessoas a mais do que no ano anterior no Rio de Janeiro.


Os números apresentados pelo Instituto de Segurança Pública serviram de base para uma soma que mostra de uma forma mais geral a gravidade da incidência da violência no Estado do Rio de Janeiro. Também a partir do relatório do ISP, mas para além das estatísticas dos comparativos mês a mês entre 2008 e 2009, e englobando dados de 2007, o movimento social Rio de Paz consolidou a seguinte conta: nos últimos mil dias (janeiro de 2007 a setembro de 2009) houve 20 mil assassinatos, realidade que indica 20 mortes por dias nos territórios do estado. Aconteceram nesses mil dias 3.190 autos de resistência, 15.877 homicídios dolosos, 82 policiais mortos, 571 latrocínios.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Conforme demonstra um levantamento divulgado no mês de outubro pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o ano passado, em compração com 2007, foi particularmente movimentado para o setor de segurança pública em todo o país. O estudo revelou diagnósticos bem variados para as taxas de letalidade em unidades da federação, referentes a crimes como homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte.

Entre os 11 estados brasileiros que têm regiões metropolitanas abarcadas pelo Programa de Redução da Violência Letal Contra Adolescentes e Jovens (PRVL), do Observatório de Favelas, o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica casos como de Alagoas, que onde os homicídios dolosos cresceram em 13,1%, latrocínios em 44,2%, e as lesões corporais seguidas de morte em 51,8%, entre 2007 e 2008.

Outros exemplos mais expressivos foram os do Espírito Santo, com mais 4,9% de homicídios dolosos e mais 144,6% latrocínios, e o de Minas Gerais que teve quedas tanto nas taxas de homicídios dolosos (menos 11,1%) como nas de latrocínio (menos 21,3%), no mesmo período. Ainda aparecem no relatório do Fórum de Segurança Pública o estado de São Paulo, com decréscimo de 7,8% nos homicídios dolosos e aumento de 24,4% nos latrocínios; e o estado do Rio de Janeiro, com queda de 5,7% nos homicídios dolosos, que foram de 5.504 para 5.235 casos, em um ano. Apesar dessa diminuição, o estado do Rio apresentou elevações de 12,5% nos latrocínios e 9,1% nas lesões corporais seguidas de morte.

O levantamento utilizou dados obtidos com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), as secretarias de Segurança dos Estados, o Sistema Único de Saúde (SUS), a Secretaria do Tesouro Nacional, o IBGE, além dos orçamentos estaduais. O anuário resume estatísticas criminais, informações acerca de gastos com políticas de segurança pública, informações sobre o sistema prisional e o sistema de medidas socioeducativas, e dados referentes às instituições policiais. O objetivo do estudo é compilar dados já existentes, mas dispersos em diferentes fontes e órgãos da administração pública.


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