segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sexting: Em busca de notoriedade, crianças e adolescentes apostam a própria sexualidade na web

Por Cecília Olliveira

Reconhecimento, notoriedade e privacidade zero. A meta agora é ser popular. Mas vale tudo para ser conhecido, ter popularidade? Para muitas crianças e adolescentes, sim. Vale tudo, inclusive disponibilizar na internet vídeos com exposição sem limites, inclusive com atos sexuais.

A prática conhecida como Sexting tem ganhados adeptos no Brasil e a cada dia cresce o número de material cibernético postado em sites como Youtube, por meninos e meninas. “Isso começou a ocorrer em outros países há 2, 3 anos. Aqui, em 2009, houve o caso de um vídeo em que adolescentes de 12 anos mantinham relações sexuais no banheiro da escola, o que acabou virando uma competição entre alunos de outras escolas, para ver qual o vídeo mais assistido”, conta o psicólogo e diretor de prevenção da SaferNet, Rodrigo Nejm. O caso mais recente de Sexting foi de dois adolescentes do sul do país que mantiveram a webcam ligada por mais de duas horas enquanto praticavam sexo. As imagens eram divulgadas ao vivo pelo Twitcam, um site que veicula vídeos e permite convidar os contatos do microblog Twitter para assistirem à exibição. Neste caso o delegado Emerson Wendt foi avisado ainda durante a exibição e o caso.

Pesquisa realizada em fevereiro pela ONG que se dedica à defesa dos direitos humanos na rede, com 2.159 crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos revela que 11% deles já fizeram sexting ao menos uma vez, ou seja, publicaram mensagens íntimas/eróticas ou fotos em poses sensuais e insinuantes. As amostras foram colhidas em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Maranhão e Pará.

Consequências

As explicações para tamanha exposição podem ser variadas. Culto à celebridade, apelo midiático de que é bacana ser famoso e pouca discussão sobre sexualidade são algumas das justificativas. “A impressão de que a internet permite uma expressão mais livre ou achar que é mais ‘grave’ se expor pessoalmente, podem explicar o que tem acontecido”, aponta Rodrigo.

De acordo com o delegado e Membro da Associação Internacional de Investigação de Crimes de Alta Tecnologia Emerson Wendt, o número de denúncias tem crescido consideravelmente. O mesmo tem sido constatado pela Safernet. “Muitas das denúncias chegavam como pornografia infantil, mas produzidas pelo próprio adolescente. É um grande desafio, já que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) classifica a divulgação de tais imagens como pornografia infantil”, diz o coordenador, que explica que a prática pode evoluir para um ciberbulling, já que os envolvidos passam a ser hostilizados. Emerson lembra que “a Lei fala em imagem de sexo envolvendo criança e adolescente. Mesmo que tenha o consentimento deles a classificação não muda”. O texto do ECA (art 241-A e B) diz que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar, divulgar, adquirir, possuir ou armazenar fotografias e vídeos que contenham cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente tem penas de reclusão de um a seis anos, além de multa.

Os vídeos geralmente são postados em provedores externos e baixados por torrent (localizador e distribuidor de downloads, indexados em sites diversos e que dificulta a investigação), numa forma de burlar a legislação brasileira. “Daqui há uns 10 anos este adolescente pode ser um pai, uma mãe e isso será um transtorno. Como explicar isso para um filho, a um funcionário seu daqui uns anos?”, pergunta o coordenador da Safernet. Ele se baseia no fato de que pouca coisa que tenha ido parar na internet seja totalmente eliminado da rede, mas ao contrário, esse conteúdo aparece em vários sites e provedores, se perpetuando. “Depois que cai na internet é bastante difícil controlar a proliferação, mas não impossível”, explica o delegado.

Cuidados


A orientação dada pela ONG que desde 2005 se dedica a acompanhar os direitos humanos na internet e encaminhar as denuncias recebidas aos órgãos competentes, é de que as famílias alertem os filhos sobre os riscos e de que conversem mais e melhor sobre a sexualidade. “Do nosso ponto de vista, uma medida mais educativa é mais eficaz que uma criminalizadora, dada a gravidade do que está em questão”, enfatiza Rodrigo Nejm. Tal opinião é compartilhada pelo delegado Wendt, que diz que “a orientação em casa e na escola tem efeitos positivos sobre as atitudes das crianças e adolescentes”.

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